O arcebispo Desmond Tutu, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, morreu em 26 de dezembro de 2021, aos 90 anos. O religioso se destacou por seu ativismo contra o regime segregacionista do apartheid na África do Sul. Nos últimos anos, ele teve que ser hospitalizado diversas vezes devido a problemas de saúde.
Nascido de pais cristãos na cidade de Klerksdorp, Tutu foi batizado na Igreja Metodista. Mais tarde, sua família passou a seguir a Igreja Anglicana. Desde criança ele esteve envolvido com a religião, tendo sido coroinha de uma igreja.
Após se formar em pedagogia, ele trabalhou como professor do ensino médio, lecionando inglês e história. Em 1956, ele passou a estudar teologia e quatro anos depois foi ordenado sacerdote da Igreja Anglicana. Em 1962, após ganhar uma bolsa para continuar seus estudos teológicos na Inglaterra, ele se mudou com a esposa e os filhos para Londres.
Em 1967, de volta à África do Sul, Tutu atuou em várias instituições religiosas de ensino. No início da década de 1970, ele retornou para Inglaterra para assumir o posto de diretor para a África do Fundo de Educação Teológico. Ele retornou para seu país natal em 1975 e no ano seguinte foi ordenado bispo de Lesotho.
Luta contra o apartheid
Com o passar dos anos, Tutu se tornou uma das grandes vozes contra o apartheid. Além de pregar que o regime racista fosse combatido com táticas não-violentas, ele lutou pela libertação de Nelson Mandela, seu amigo de longa data. Na década de 1980, ele viajou pelo mundo para denunciar os horrores que a população negra sofria na África do Sul.
Por sua luta contra o apartheid, Tutu foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em 1984. Nos anos seguintes, foi ordenado bispo de Joanesburgo e arcebispo da Cidade do Cabo. Enquanto isso, ele seguia em sua missão de acabar com o regime segregacionista, participando de protestos e atos de desobediência civil.
A segregação racial no país teve início ainda no período colonial, mas o apartheid foi introduzido como política oficial após as eleições gerais de 1948. A nova legislação dividia os habitantes em grupos raciais ("negros", "brancos", "de cor" e "indianos"), segregando as áreas residenciais, muitas vezes por meio de remoções forçadas.
A partir do fim da década de 1970, os negros foram privados de sua cidadania, tornando-se legalmente cidadãos de uma das dez pátrias tribais autônomas chamadas de bantustões. Nessa altura, o governo já havia segregado a saúde, a educação e outros serviços públicos, fornecendo aos negros serviços inferiores aos dos brancos.
Com as negociações propostas pelo presidente Frederik de Klerk no início dos anos 1990, o regime passou a ser desmantelado. Após quase 30 anos atrás das grades, o líder sul-africano Nelson Mandela foi libertado da prisão em 1990. Em 1994, foram realizadas eleições multirraciais e democráticas, vencidas pelo Congresso Nacional Africano, sob a liderança de Mandela, que presidiu o país até 1999.
Depois que as eleições gerais de 1994 resultaram em um governo de coalizão chefiado por Mandela, este último escolheu Tutu para presidir a Comissão de Verdade e Reconciliação para investigar abusos cometidos por grupos pró e anti-apartheid no passado. Após a queda do regime, Tutu fez campanha pelos direitos dos homossexuais e se envolveu em uma ampla gama de assuntos, entre eles o conflito israelense-palestino, sua oposição à Guerra do Iraque e suas críticas aos presidentes sul-africanos Thabo Mbeki e Jacob Zuma. Em 2010, ele se aposentou da vida pública.