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10 coisas que talvez você não saiba sobre o Império Bizantino

Por History Channel Brasil em 07 de Janeiro de 2019 às 09:42 HS
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O ano de 476 d.C. é normalmente citado como o ano em que o Império Romano ruiu, mas sua metade oriental viveu por mais mil anos na forma do Império Bizantino, um reino poderoso com base em Constantinopla (a atual Istambul). Esse Império Romano do Oriente possuía muitas características do seu correspondente ocidental – alta cultura, uma economia em expansão, arquitetura deslumbrante e líderes cruéis e sedentos por poder – e serviu como baluarte contra invasões na Europa até 1453, quando foi finalmente derrubado pelos turcos otomanos. Conheça abaixo 10 fatos fascinantes sobre o império medieval que fez a ponte entre o mundo clássico e o Renascimento.

 

[ASSISTA A REBELIÃO DOS BÁRBAROS. ESTREIA SEGUNDA (12/09), ÀS 22H40]

 

1) Ele só foi chamado de Império Bizantino após sua queda

O termo “Império Bizantino” entrou em uso comum durante os séculos XVIII e XIX, mas ele era completamente estranho para os habitantes do antigo império. Para eles, Bizâncio era uma continuação do Império Romano, que havia acabado de transferir sua sede em Roma para a nova capital oriental em Constantinopla. Embora em grande parte cristãos e de língua grega, os bizantinos se chamavam de “Romaioi”, ou romanos, e eles ainda obedeciam às leis romanas e se divertiam com a cultura e jogos dessa civilização. Apesar de Bizâncio ter desenvolvido uma identidade própria e influenciada pelos gregos com o passar dos séculos, o império continuou a estimar suas raízes romanas até sua queda. Após a conquista de Constantinopla em 1453, o líder turco Maomé II chegou a reivindicar o título de “César de Roma”.

 

 

2) Constantinopla foi construída com o objetivo de virar a capital imperial

As origens do Império Bizantino datam de 324 d.C., quando o imperador Constantino abandonou a decadente cidade de Roma e deslocou sua corte para Bizâncio, uma antiga cidade portuária estrategicamente localizada no estreito de Bósforo, que separava a Europa da Ásia. Em um período de apenas seis anos, Constantino transformou a sossegada colônia grega em uma metrópole completa, com fóruns, edifícios públicos, universidades e muralhas defensivas. Ele chegou até a trazer monumentos romanos antigos e estátuas para consolidar seu status de capital mundial. Constantino inaugurou a cidade em 330 como “Nova Roma”, mas ela acabou ficando conhecida como “Constantinopla” por causa de seu criador.

 

 

3) Seu imperador mais influente veio de origens humildes

A ascensão de Bizâncio veio com o reinado improvável de Justiniano I. Nascido por volta de 482 nos Balcãs, ele viveu sua juventude como o filho de um camponês até ficar sob a guarda de seu tio Justino I, um ex-criador de porcos e soldado que posteriormente se tornou o imperador bizantino. Justiniano sucedeu Justino em 527 e, apesar de sempre ter falado grego com um acento ruim – um sinal de suas origens provincianas –, ele se mostrou um verdadeiro governante. Durante quase 40 anos no trono, ele reconquistou enormes faixas de território romano perdido e empreendeu ambiciosos projetos arquitetônicos, incluindo a reconstrução da Hagia Sophia de Constantinopla, uma basílica com uma cúpula considerada atualmente como uma das maiores realizações arquitetônicas da história. Talvez o mais importante de tudo, Justiniano foi responsável por compilar leis romanas no Corpus Juris Civilis, um compêndio de jurisprudência que forma a base de muitos sistemas legais modernos.

 

 

4) Um motim causado por hooligans de corrida de bigas quase deixou o império de joelhos

Assim como as franquias de esportes modernos possuem fãs ardorosos, a corrida de bigas bizantina tinha os Azuis e os Verdes, dois grupos de torcedores fanáticos – e muitas vezes violentos – nomeados por causa da cor usada por suas equipes favoritas. Esses hooligans antigos eram inimigos declarados, mas, em 532, um descontentamento com relação aos impostos altos e à tentativa de homicídio de dois de seus líderes os uniu em uma insurreição sangrenta conhecida como Revolta de Nika. Por vários dias, os Azuis e os Verdes correram furiosamente por Constantinopla queimando edifícios e tentando, inclusive, coroar um novo governante. Justiniano, então, ordenou que seus guardas bloqueassem as saídas para o Hipódromo da cidade – que os manifestantes utilizavam como sede – e armou uma emboscada com uma tropa de mercenários. O resultado foi um massacre. Ao final da batalha, o motim foi esmagado e um número estimado de 30 mil pessoas morreu – o equivalente a 10% da população de toda Constantinopla.

 

 

5) Os governantes bizantinos eram conhecidos por cegar e mutilar seus rivais

Muitas vezes, os políticos bizantinos evitavam matar seus rivais para, em vez disso, realizar atos de mutilação física. Muitos pretensos usurpadores e imperadores depostos eram cegados ou castrados para que fossem impedidos de liderar tropas ou ter filhos, enquanto outros tinham suas línguas, narizes ou lábios cortados. Supostamente, a mutilação acontecia para evitar que as vítimas desafiassem o poder – pessoas desfiguradas eram tradicionalmente barradas do governo imperial –, mas isso nem sempre ocorreu conforme o planejado. Em um ato notório, o imperador Justiniano II teve seu nariz cortado quando foi derrubado, em 695, mas voltou do exílio 10 anos depois e reivindicou o trono – ao ostentar supostamente um nariz de ouro artificial. 

 

 

6) Seus militares usaram uma versão inicial do napalm

Bizâncio devia grande parte do seu sucesso ao fogo grego, um misterioso líquido incendiário que era usado para deixar as tropas e os navios inimigos em chamas. A composição exata desse antigo napalm se perdeu na história – ele podia conter tudo, desde petróleo e resina de pinheiro a enxofre e salitre –, mas os relatos o descrevem como uma substância grossa e pegajosa que poderia ser pulverizada a partir de sifões ou arremessada em potes de barro, como granadas. Uma vez acendido, ele não poderia ser apagado com água e poderia até arder sobre a superfície do mar. O fogo grego é mais notoriamente associado à marinha bizantina, que o utilizava para efeitos devastadores contra invasores árabes e russos durante cercos de Constantinopla nos séculos VII e X.

 

 

7) O Império deu origem à Igreja Ortodoxa Oriental

Bizâncio foi quase sempre um império cristão, mas, ao longo dos séculos, sua igreja de idioma grego desenvolveu divergências litúrgicas com relação às igrejas católicas, de língua latina do Ocidente. As tensões teológicas finalmente transbordaram em 1054, quando um desentendimento entre o patriarca de Constantinopla e o delegado papal levou as igrejas orientais e ocidentais a emitirem decretos se excomungando. Esse “Grande Cisma” criou duas correntes distintas do cristianismo: A Igreja Católica Romana do Ocidente e a Igreja Ortodoxa Oriental no Império Bizantino do leste. Por fim, as duas igrejas revogaram suas ordens de excomunhão na década de 1960 após um encontro histórico entre o católico Papa Paulo VI e o patriarca ortodoxo Atenágoras I, mas elas permanecem entidades separadas até hoje.

 

 

8) Sua capital foi saqueada durante as Cruzadas

Um dos capítulos mais sombrios da história bizantina teve início nos princípios do século XIII, quando guerreiros cristãos se reuniram em Veneza para a Quarta Cruzada. Os cruzados deveriam navegar para o Oriente Médio com o objetivo de tomar Jerusalém dos turcos muçulmanos, mas devido à escassez de dinheiro e de atrito com os bizantinos ortodoxos, eles foram obrigados a fazer um desvio a Constantinopla para restituir um imperador deposto do trono. Após um acordo para financiar sua expedição à Terra Santa ter fracassado em 1204, os cruzados realizaram um saque sangrento em Constantinopla, queimando a cidade e levando grande parte de seu tesouro, arte e relíquias religiosas. Eles também dividiram o Império Bizantino e instituíram um governante latino. Apesar de os bizantinos terem reconquistado Constantinopla em 1261, o Império nunca mais recuperaria sua antiga glória.

 

 

9) A invenção do canhão contribuiu para a queda do Império

As muralhas elevadas de Constantinopla mantiveram os invasores, godos, persas, russos e árabes na baía por séculos, mas elas não se mostraram páreo para a tecnologia militar em transformação. Na primavera de 1453, já tendo conquistado a maior parte da fronteira bizantina, os turcos otomanos, sob o comando do sultão Maomé II, sitiaram a capital com uma coleção de canhões especialmente projetados por um engenheiro húngaro. No centro do arsenal, estava uma arma de 8 metros de comprimento tão pesada que foi necessária uma manada de 60 bois para transportá-la. Após bombardearem as fortificações de Constantinopla por várias semanas, os otomanos conseguiram abrir uma fenda nas muralhas em 29 de maio, permitindo a entrada de inúmeros islâmicos na cidade e deixando seus habitantes reféns de suas espadas. Dentre os vários mortos, estava o último imperador bizantino, Constantino XI, que supostamente teria tirado seu traje real e gritado “a cidade está perdida, mas eu vivo!” antes de entrar na batalha. Com a queda de sua outrora poderosa capital, o Império Bizantino ruiu após mais de 1.100 anos de existência.

 

 

10) Os bizantinos preservaram muitos dos escritos da Grécia Antiga

Os escritos dos pensadores gregos, como Platão, Ptolomeu e Cláudio Galeno poderiam ter se perdido na história se não fosse pelo Império Bizantino. Embora muitas vezes hostis às chamadas ideias “pagãs”, os escribas bizantinos copiaram criteriosamente os manuscritos em decomposição dos antigos e as bibliotecas de Constantinopla salvaguardaram textos gregos e romanos que desapareciam lentamente no Ocidente. Estima-se que, de todos os antigos manuscritos gregos sobreviventes hoje, mais de dois terços são legado dos bizantinos.

 


 

IMAGEM: Rafael Sanzio / The Baptism of Constantine [Domínio público], via Wikimedia Commons