Em 29 de outubro de 1958, o autor russo Boris Pasternak recusou o Prêmio Nobel de Literatura daquele ano. No dia 23 do mesmo mês, ele havia sido anunciado pela Academia Sueca como o vencedor da premiação. A recusa aconteceu devido à pressão do governo soviético, que se opunha ao escritor.
Após saber da premiação, Pasternak enviou no dia 25 de outubro um telegrama à Academia Sueca se dizendo "infinitamente grato, emocionado, orgulhoso, surpreso, maravilhado". Nesse mesmo dia, o Instituto Literário de Moscou exigiu que todos os seus alunos assinassem uma petição denunciando Pasternak e seu romance "Doutor Jivago", considerado antissoviético. Além disso, Pasternak foi informado de que, se viajasse para Estocolmo para receber seu Nobel, ele seria impedido de entrar novamente na União Soviética.
Depois das ameaças, Pasternak enviou um segundo telegrama ao Comitê do Nobel: "Em vista do significado dado à premiação pela sociedade em que vivo, devo renunciar a essa distinção imerecida que me foi conferida. Por favor, não entendam mal a minha renúncia voluntária". O fato deixou o autor emocionalmente abalado. "Não pude reconhecer meu pai quando o vi naquela noite. O rosto pálido e sem vida, olhos cansados e doloridos e falando apenas da mesma coisa: 'Agora nada mais importa, recusei o prêmio'", disse seu filho, Yevgenii Pasternak.
Apesar de sua decisão de recusar o prêmio, o Sindicato dos Escritores Soviéticos continuou a demonizar Pasternak na imprensa estatal. Além disso, ele foi ameaçado de ser mandado ao exílio no Ocidente. Em resposta, o autor escreveu diretamente ao líder soviético Nikita Khrushchev para que ele não tomasse essa medida extrema. Em 31 de outubro de 1958, o sindicato anunciou a expulsão de Pasternak da entidade. Seus membros também assinaram uma petição exigindo que Pasternak fosse despojado de sua cidadania soviética e exilado para "seu paraíso capitalista". O autor morreu dois anos depois.
Em dezembro de 1989, Yevgenii Pasternak foi autorizado a viajar para Estocolmo para receber o Prêmio Nobel de seu pai. Na cerimônia, o aclamado violoncelista e dissidente soviético Mstislav Rostropovich executou uma obra de Bach em homenagem ao seu falecido compatriota.
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