No dia 26 de janeiro de 1887, o tentente-coronel Antônio de Sena Madureira e o marechal Deodoro da Fonseca foram recepcionados e ovacionados como heróis pelos cadetes da Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. O episódio fez parte da Questão Militar, como ficou conhecida uma sucessão de conflitos que envolveram oficiais do Exército Brasileiro e a monarquia entre 1883 e 1887. Essa crise política culminou com a proclamação da República em 1889.
O estopim da Questão Militar aconteceu em 1883, quando o governo anunciou a reforma do montepio (espécie de fundo de pensão e aposentadoria do Exército), elevando as contribuições dos militares. Professores e alunos da Escola Militar do Rio de Janeiro, liderados pelo tenente-coronel Sena Madureira, reagiram ao projeto e criticaram publicamente o Ministério da Guerra. O governo acabou abandonando a proposta, mas depois disso proibiu os oficiais de se manifestarem pela imprensa sobre assuntos internos do Exército.
Em 1884, outra polêmica envolveu Sena Madureira. Ele convidou uma das personalidades da luta pelo abolicionismo, o jangadeiro cearense Francisco José do Nascimento, a visitar a Escola de Tiro do Rio de Janeiro, da qual era comandante. Nascimento, conhecido como Dragão do Mar, ganhou notoriedade ao se recusar a transportar escravos em Fortaleza. A homenagem ao abolicionista converteu-se em nova punição para Sena Madureira, que foi transferido para a Escola Preparatória de Rio Pardo, na província do Rio Grande do Sul.
No ano seguinte, acontece o terceiro conflito. Durante investigações em um quartel da Província do Piauí, o Coronel Ernesto Augusto da Cunha Matos descobriu que o comandante era corrupto. Censurado na tribuna da Câmara dos Deputados por políticos amigos do denunciado, Cunha Matos reagiu publicamente, com o apoio de importantes oficiais do Exército, mas foi preso e processado por indisciplina.
As punições disciplinares a Sena Madureira e Cunha Matos causaram revolta em importantes chefes do Exército, como o Presidente da Província e Comandante das Armas do Rio Grande do Sul, o então general Deodoro da Fonseca. Com seu engajamento na Questão Militar, Deodoro passou a sofrer fortes críticas de políticos. Após uma tensa troca de cartas com o barão de Cotegipe, Deodoro foi demitido dos cargos que ocupava.
Em janeiro de 1887, em Porto Alegre, Deodoro foi um dos oradores de uma homenagem a Sena Madureira. Em seguida, os dois viajaram para o Rio de Janeiro. No dia 26 daquele mês, os alunos da Escola Militar compareceram em peso ao cais para prestigiar a chegada dos dois, contrariando ordens do Ministério da Guerra. O ato resultou na demissão do diretor da instituição, o marechal Severiano da Fonseca, irmão de Deodoro.
Depois disso, foi criado o Clube Militar, presidido por Deodoro e fundado com o objetivo de ser a entidade de representação política do Exército. A abolição da escravatura foi a primeira grande questão nacional adotada pela entidade. Em outubro de 1887, Deodoro escreveu uma carta destinada à princesa regente Isabel, reclamando contra o emprego de soldados na captura de escravos fugitivos, e afirmando que o Exército não se prestava ao papel de "capitão-do-mato".
Enquanto isso, a insatisfação militar crescia e a propaganda republicana ganhava força no Exército. Em 11 de novembro de 1889, em meio a outra crise, personalidades civis e militares, como Rui Barbosa, Benjamin Constant e Quintino Bocaiúva, tentaram convencer Deodoro a liderar o movimento contra a monarquia. A princípio relutante em aceitar a missão, ele acabou concordando em pelo menos derrubar o Visconde de Ouro Preto, chefe do Gabinete. Assumindo o comando da tropa, nas primeiras horas do dia 15 de novembro de 1889, Deodoro partiu para o Ministério da Guerra, onde líderes monarquistas estavam reunidos. Com a deposição de todos, Deodoro proclamou a República.
Imagem: Alberto Henschel (1827–1882), via Wikimedia Commons