"A Noite dos Lápis" foi como ficou conhecida uma série de sequestros e desaparecimentos promovidos pela ditadura militar da Argentina a partir de 16 de setembro de 1976. As vítimas eram estudantes secundaristas que, em sua maioria, atuavam como militantes ou ex-militantes da União de Estudantes Secundaristas (UES) da cidade de La Plata. Foi um dos mais conhecidos atos de repressão cometidos durante o regime do então presidente Jorge Rafael Videla.
Após o golpe militar de março de 1976, o governo implementou o que foi chamado de Processo Nacional de Reorganização, um conjunto de ações que tinham o objetivo de destruir as forças de guerrilhas de esquerda e oprimir os focos de resistência. O processo incluía sequestros, tortura e assassinatos. Enquanto isso, o grupo de guerrilha esquerdista Montoneros reagia veementemente contra a ditadura, convocando outras entidades para participar de sua campanha contra o regime. Entre elas estava a UES.
Acredita-se que a violência iniciada naquele 16 de setembro tenha sido motivada em represália à UES. Por meio de manifestações e protestos, a entidade reivindicava reformas políticas e escolares, como o direito ao desconto nas passagens de ônibus para estudantes. Essas ações teriam irritado o governo. Pouco antes dos sequestros, o governo estaria espionando o movimento estudantil para identificar seus líderes, vistos como subversivos e aliados dos Montoneros.
Em 16 e 17 de setembro, homens mascarados invadiram diversas casas de estudantes, levando-os para centros de detenção clandestinos. Ao todo, dez jovens de idades entre 16 e 18 anos foram sequestrados. Eles foram vítimas de tortura durante dias. Apenas quatro deles sobreviveram, enquanto os outros são considerados desaparecidos.
Detalhes da Noite dos Lápis foram fornecidos por dois dos sobreviventes. "Eles nos torturaram com profundo sadismo. Lembro-me de estar nua. Eu era apenas uma menina pequena e frágil e fui espancada por um homem enorme", disse Emilce Moler. "Depois de cerca de uma semana em nosso primeiro centro de detenção, todos fomos levados para outro lugar em um caminhão. Em algum momento, paramos e alguns de meus amigos foram levados. Esses foram os que desapareceram", afirmou. Moler disse que não sabe por que alguns membros da UES foram poupados enquanto outros foram mortos.
Outra vítima, Pablo Diaz, também testemunhou a respeito da violência que sofreu. "Eles me deram choques elétricos na boca, nas gengivas e nos órgãos genitais. Eles arrancaram uma das minhas unhas dos pés. Era muito comum passar vários dias sem comida", disse.
Em 1987, a história da Noite dos Lápis foi contada em um filme que teve a colaboração de Pablo Diaz no roteiro. Em setembro de 2011, quase duas dezenas de oficiais foram acusados de crimes contra a humanidade por terem participado da Noite dos Lápis. Entre eles estava Miguel Etchecolatz, que já cumpria pena de prisão perpétua por outros crimes cometidos como oficial do regime.