Em 10 de novembro de 2019, Evo Morales anunciou sua renúncia à presidência da Bolívia durante um pronunciamento na televisão. O líder indígena alegou que deixou o cargo para evitar o aumento da violência no país. Horas antes, o comandante-chefe das Forças Armadas e da Polícia boliviana, o general Williams Kaliman havia sugerido que ele renunciasse para pacificar a nação.
Evo Morales renunciou vinte dias após a polêmica causada pela eleição que teria lhe garantido o quarto mandato consecutivo à frente do governo boliviano. Morales foi anunciado vencedor, derrotando o opositor e ex-presidente Carlos Mesa, mas os resultados das urnas foram contestados. Indícios de fraude eleitoral fizeram com que inúmeros protestos eclodissem no país.
Na véspera da renúncia, uma auditoria eleitoral feita pela OEA (Organização dos Estados Americanos) confirmou a existência de indícios de fraude. Logo em seguida, Morales anunciou que aceitava o resultado dos auditores e convocaria novas eleições. Depois disso, a tensão voltou a crescer, culminando com a prisão de membros do Tribunal Supremo Eleitoral, acusados de envolvimento com as fraudes. Após a adesão das Forças Armadas, da Chefia de Polícia e da Defensoria Pública, Evo renunciou e partiu de avião de La Paz para Chimboré.
Líder sindical dos cocaleros (agricultores que cultivam a planta da coca, Evo foi eleito o primeiro presidente de origem indígena da Bolívia em 2006. De orientação socialista, o foco do seu governo foi a implementação da reforma agrária e a nacionalização de setores chaves da economia, contrapondo-se à influência dos Estados Unidos e das grandes corporações nas questões políticas internas do país.
Morales foi elogiado por reduzir significativamente a pobreza e o analfabetismo na Bolívia. Seus apoiadores o consideram um defensor dos direitos indígenas e do ambientalismo. Por outro lado, vários críticos de esquerda, incluindo indígenas e ambientalistas o acusaram de não cumprir muitas de suas promessas. Já seus opositores de direita o apontavam como excessivamente radical e autoritário.
Em 2009, Evo foi reeleito para um segundo mandato. Apesar de ter prometido que não iria se candidatar em 2014, ele disputou as eleições e saiu vencedor novamente. Em 2016, houve um plebiscito para decidir se poderia haver uma quarta reeleição, e o resultado foi negativo para Evo Morales. Apesar disso, ele recorreu na Justiça, que permitiu que ele disputasse as eleições mais uma vez. A disputa do quarto mandato, em 2019, acabou sendo o estopim para sua renúncia.
Imagem: Ministério das Relações Exteriores do Peru, via Wikimedia Commons