Um dos maiores ícones da televisão brasileira, Silvio Santos morreu em 17 de agosto de 2024, aos 93 anos, em São Paulo. Ele havia sido internado em um hospital em julho, com H1N1, teve alta, mas voltou a se internar algumas semanas depois. Sua trajetória de vida foi impressionante: após começar a carreira como camelô, ele se consagrou como apresentador de programas de auditório e acabou se tornando um empresário bilionário.
Origem humilde e sucesso nacional
Filho primogênito de um casal de imigrantes que chegou ao Brasil em 1924, ele foi batizado como Senor Abravanel ao nascer no Rio de Janeiro, em 1930. Seus pais eram judeus sefarditas vindos do Império Otomano. O tino para os negócios despertou cedo em Silvio Santos: em 1946, quando tinha 14 anos, ele viu um homem que vendia capinhas de plástico para guardar títulos de eleitor nas ruas do Rio, durante as eleições. Ele decidiu fazer o mesmo, começando assim sua carreira como vendedor ambulante.
Naquela época, além das capas de plástico, ele também vendia canetas tinteiro. Um dia Silvio foi surpreendido e teve suas mercadorias apreendidas, mas o guarda reconheceu o talento em potencial de sua voz. Em vez de apreender o garoto, entregou-lhe um cartão de uma rádio, na qual fez um teste e foi aprovado. Apesar disso, depois de um tempo ele largou a emissora e voltou a ser camelô, pois faturava mais com essa atividade.
Quando completou 18 anos, Silvio foi convocado pelo Exército e passou a servir na Escola de Paraquedistas, onde chegou a fazer alguns saltos. Mas a carreira de camelô era incompatível com a de militar e, nos dias de folga, ele voltou a trabalhar como locutor em uma rádio de Niterói para ter uma renda extra. Ao pegar a barca que fazia a trajetória Rio-Niterói, o empreendedor teve a ideia de montar um serviço de alto-falantes no transporte, convencendo comerciantes a financiar sua iniciativa. No intervalo entre as músicas tocadas nas caixas de som, ele fazia propagandas de alguns produtos para os passageiros.
Quando a barca precisou suspender as atividades para ser consertada após um acidente, Silvio, aos 20 anos, foi tentar a vida em São Paulo. Lá, ele apresentava espetáculos e sorteios em caravanas de artistas. Na mesma época, acabou se formando como técnico em contabilidade, mas resolveu prosseguir na carreira do entretenimento. Pouco depois, começou a trabalhar como locutor na Rádio Nacional.
Em 1958, Silvio comprou de seu amigo Manoel da Nóbrega uma empresa chamada Baú da Felicidade, que vendia presentes para crianças mediante pagamentos de prestações. Em seguida ele expandiu o negócio, criando lojas em que os clientes poderiam trocar os carnês quitados por brinquedos e eletrodomésticos.
Silvio Santos iniciou sua carreira na televisão em junho de 1960, comprando horários na TV Paulista de São Paulo para promover o Baú da Felicidade por meio do programa Vamos Brincar de Forca. A atração de meia hora de duração era exibida no horário nobre das noites de segunda-feira, e tinha entre seus participantes clientes que eram sorteados ao pagar as mensalidades do carnê em dia, estratégia que seria mantida ao longo da carreira do apresentador.
Quando a TV Paulista foi incorporada à Rede Globo, Silvio seguiu pagando aluguel pelo seu horário dominical, revendendo o tempo dos anúncios a outras empresas. Porém, no início dos anos 1970, os diretores da Rede Globo promoveram reformas no padrão de qualidade da emissora, investindo em filmes, esporte, jornalismo e novelas, e acabando com os programas independentes. Para os executivos, o programa de Silvio Santos destoava da grade de programação.
Foi quando Silvio começou a fazer programas na Rede Tupi, assegurando a transmissão nacional de seu programa, ao mesmo tempo em que lutava politicamente para obter seus próprios canais de televisão. No dia 22 de outubro de 1975, o presidente Ernesto Geisel assinou um decreto outorgando a Silvio Santos o canal 11 do Rio de Janeiro. No ano seguinte, estreava a programação da TVS. Em 1981, ele ganhou a concessão de mais quatro canais, que juntos formavam o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT).
A rede se expandiu rapidamente pelo Brasil por meio de emissoras afiliadas. Na década de 1980, o SBT se consolidou com atrações populares, como o próprio programa dominical de Silvio Santos, e o Viva a Noite, apresentado por Gugu Liberato. Nos anos seguintes, a emissora investiu na produção de novelas, no jornalismo e em programas comandados por apresentadores como Hebe Camargo e Jô Soares.
Em 1989, Silvio Santos flertou com a política. Sua candidatura a presidente do Brasil chegou a ser lançada, mas a iniciativa acabou não dando certo. Nos anos seguintes, o SBT se manteve na briga pela vice-liderança de audiência no país, disputando principalmente com a Rede Record.
Em 2001, Silvio Santos foi mantido refém durante oito horas, dentro de sua própria casa, por um criminoso, o mesmo que havia sequestrado sua filha, Patrícia Abravanel, dias antes. O caso, digno de um roteiro de cinema, ganhou repercussão internacional.
Trabalhando em seu programa de TV até os últimos anos de vida, recentemente ele havia passado o bastão para sua filha Patrícia.