Abolicionista e ex-escravo Luís Gama recebe título de doutor honoris causa da USP
A Universidade de São Paulo (USP) concedeu o título de doutor honoris causa póstumo ao abolicionista Luís Gama (1830-1882). Poeta, jornalista e advogado, o intelectual se destacou na luta contra a escravidão no Brasil. Nascido de mãe negra livre e pai branco, ele mesmo foi escravizado na infância.
Luís Gama, ícone da abolição
Segundo o estatuto da USP, o título de doutor honoris causa é concedido “a personalidades nacionais ou estrangeiras que tenham contribuído, de modo notável, para o progresso das ciências, letras ou artes; e aos que tenham beneficiado de forma excepcional a humanidade, o País, ou prestado relevantes serviços à Universidade”. “Este é um dia marcante para celebrarmos este grande brasileiro. A USP se sente muito honrada em poder conceder este título a Luís”, afirmou o reitor Vahan Agopyan.
Luís Gama nasceu em 21 de junho de 1830, em Salvador, filho de um fidalgo português, cujo nome nunca revelou, e Luísa Mahín, africana livre da Costa Mina, importante ativista envolvida em diversos levantes dos escravos na Bahia no início do século XIX. Nascido livre, foi vendido como escravo aos dez anos pelo próprio pai para saldar dívidas de jogo e, com isso, levado para São Paulo onde, aos 17 anos, aprendeu a ler e escrever. Com seus estudos, conseguiu conquistar judicialmente a própria liberdade.
Em 1850, Gama tentou ingressar no curso de Direito da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Negro e pobre, não foi admitido formalmente como aluno. Entretanto, permaneceu nos corredores da faculdade, frequentou a biblioteca e assistiu a inúmeras aulas como ouvinte. Assim, adquiriu conhecimentos jurídicos sólidos que lhe possibilitaram atuar na defesa jurídica de pessoas escravizadas.
Atuando como advogado provisionado (profissional sem formação acadêmica que obtinha autorização para exercer a advocacia), Gama tornou-se o maior especialista jurídico na libertação de escravos. Durante sua carreira, ele libertou mais de 500 cativos, além de ter trabalhado na defesa de pessoas pobres, inclusive imigrantes europeus. Paralelamente, também foi jornalista e literato.
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Fonte: Jornal da USP
Imagens: Domínio Público, via Wikimedia Commons