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Diários de 500 anos revelam efeitos da "Pequena Era Glacial" na Europa medieval

Documentos do século XVI descrevem secas extremas, enchentes e epidemias na região da Transilvânia
Por History Channel Brasil em 14 de Fevereiro de 2025 às 12:58 HS
Diários de 500 anos revelam efeitos da "Pequena Era Glacial" na Europa medieval-0

Pesquisadores analisaram registros históricos do século XVI para entender como mudanças climáticas extremas afetaram a vida na Transilvânia, região que hoje faz parte da Romênia. Esse material, incluindo diários e documentos paroquiais, narram períodos de seca intensa, enchentes devastadoras e epidemias que moldaram a sociedade da região durante a chamada Pequena Era Glacial. Um estudo sobre o tema foi publicado no periódico Frontiers in Climate.

Segundo os pesquisadores, o primeiro período daquele século foi marcado por calor intenso e estiagens severas. “Um trecho marcante vem de um documento histórico descrevendo o verão de 1540: ‘As nascentes secaram, e os rios se reduziram a meros filetes. O gado caía nos campos, e o ar estava carregado de desespero enquanto as pessoas se reuniam em procissões, rezando por chuva’”, disse Tudor Caciora, um dos autores do estudo e pesquisador da Universidade de Oradea, na Romênia. Já na segunda metade do século, chuvas excessivas e enchentes tornaram-se frequentes, especialmente na década de 1590.

Um dos documentos analisados no estudo
Um dos documentos analisados no estudo (Imagem: Gaceu et al., 2024/Frontiers, via EurekAlert)

Curiosamente, a Transilvânia não experimentou de imediato o resfriamento registrado em outras partes da Europa Ocidental durante a Pequena Era Glacial. Em vez disso, temperaturas elevadas predominaram no século XVI. “Isso nos faz acreditar que a Pequena Era do Gelo pode ter se manifestado mais tarde nesta parte da Europa”, afirmou Caciora. Registros posteriores, que mencionam invernos rigorosos e ondas de frio mais intensas, reforçam essa hipótese.

Os impactos das mudanças climáticas foram devastadores. Os relatos indicam 30 anos de peste negra, 23 anos de fome e nove anos com invasões de gafanhotos. No entanto, esses eventos podem ter levado a adaptações significativas, como uma infraestrutura mais resistente a enchentes e melhorias tecnológicas em irrigação e armazenamento.

Apesar das limitações dos registros históricos, que muitas vezes são subjetivos e fragmentados, os pesquisadores destacam sua importância para compreender a relação entre clima e sociedade. “Estudar os registros climáticos do arquivo da sociedade é tão crucial quanto analisar indicadores naturais”, explicou Caciora. 

Fontes
Frontiers, via EurekAlert
Imagens
Domínio Público, via Wikimedia Commons