Diários de 500 anos revelam efeitos da "Pequena Era Glacial" na Europa medieval
![Diários de 500 anos revelam efeitos da "Pequena Era Glacial" na Europa medieval-0](/sites/history.uol.com.br/files/styles/wide/public/images/2025/02/13/Pequena%20Era%20Glacial%20-%20Pintura%20-%20History%20Channel%20Brasil.jpg)
Pesquisadores analisaram registros históricos do século XVI para entender como mudanças climáticas extremas afetaram a vida na Transilvânia, região que hoje faz parte da Romênia. Esse material, incluindo diários e documentos paroquiais, narram períodos de seca intensa, enchentes devastadoras e epidemias que moldaram a sociedade da região durante a chamada Pequena Era Glacial. Um estudo sobre o tema foi publicado no periódico Frontiers in Climate.
Segundo os pesquisadores, o primeiro período daquele século foi marcado por calor intenso e estiagens severas. “Um trecho marcante vem de um documento histórico descrevendo o verão de 1540: ‘As nascentes secaram, e os rios se reduziram a meros filetes. O gado caía nos campos, e o ar estava carregado de desespero enquanto as pessoas se reuniam em procissões, rezando por chuva’”, disse Tudor Caciora, um dos autores do estudo e pesquisador da Universidade de Oradea, na Romênia. Já na segunda metade do século, chuvas excessivas e enchentes tornaram-se frequentes, especialmente na década de 1590.
![Um dos documentos analisados no estudo](/sites/history.uol.com.br/files/inline-images/Di%C3%A1rio%20-%20Transilv%C3%A2nia%20-%20Era%20Glacial%20-%20History%20Channel%20Brasil.jpg)
Curiosamente, a Transilvânia não experimentou de imediato o resfriamento registrado em outras partes da Europa Ocidental durante a Pequena Era Glacial. Em vez disso, temperaturas elevadas predominaram no século XVI. “Isso nos faz acreditar que a Pequena Era do Gelo pode ter se manifestado mais tarde nesta parte da Europa”, afirmou Caciora. Registros posteriores, que mencionam invernos rigorosos e ondas de frio mais intensas, reforçam essa hipótese.
Os impactos das mudanças climáticas foram devastadores. Os relatos indicam 30 anos de peste negra, 23 anos de fome e nove anos com invasões de gafanhotos. No entanto, esses eventos podem ter levado a adaptações significativas, como uma infraestrutura mais resistente a enchentes e melhorias tecnológicas em irrigação e armazenamento.
Apesar das limitações dos registros históricos, que muitas vezes são subjetivos e fragmentados, os pesquisadores destacam sua importância para compreender a relação entre clima e sociedade. “Estudar os registros climáticos do arquivo da sociedade é tão crucial quanto analisar indicadores naturais”, explicou Caciora.