Amazônia abrigou campo de concentração para famílias japonesas na Segunda Guerra
Quando o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados, imigrantes dos países do Eixo que viviam em terras brasileiras passaram a ser vistos com desconfiança. Em pouco tempo, alemães, italianos e japoneses passaram a ser perseguidos pelo governo, suspeitos de serem espiões. Além de não poderem se comunicar nos próprios idiomas, vários desses estrangeiros e seus descendentes chegaram a ser confinados em campos de concentração. Em um deles, na Amazônia, centenas de famílias vindas do Japão foram aprisionadas.
Esse campo de concentração ficava onde atualmente se situa o município de Tomé-Açu, à beira do rio Acará, a 200 km de Belém, no Pará. A comunidade japonesa chegou à região em 1929, por meio da Companhia Nipônica de Plantação (Nantaku). Antes da Segunda Guerra, os imigrantes viviam basicamente do cultivo de hortaliças e arroz.
Mas tudo mudou quando o Brasil entrou na guerra, em 1942. A partir daí, o governo decidiu criar campos de concentração para internar os imigrantes de países inimigos. Como a comunidade japonesa do interior paraense era rodeada pela floresta amazônica e acessível somente por via fluvial, o local se mostrou ideal para sediar um desses campos.
As cerca de 49 famílias de japoneses que já viviam na região foram considerados "prisioneiros de guerra". Além deles, outras famílias de imigrantes que viviam no Pará e até no Amazonas foram levadas para lá. Estima-se que cerca de 480 famílias de japoneses, 32 de alemães, além de alguns italianos ficaram em confinamento no local. Boa parte dessas pessoas veio de Belém.
A colônia de imigrantes ficava isolada dentro do perímetro do campo de concentração de Tomé-Açu. As casas, o hospital e outras construções comunitárias eram subordinadas ao poder do Estado. Muitos dos imigrantes não eram obrigados a ficar reclusos em celas, porém também não tinham onde se alojar ou se alimentar. A vigilância e a segurança ficavam sob a responsabilidade de um destacamento militar.
Como o governo havia decretado o confisco de bens dos imigrantes, as autoridades brasileiras apreenderam livros, aparelhos de rádio, armas e embarcações dos prisioneiros. A comunicação deles com o mundo exterior era extremamente proibida. As pessoas presas no campo também não podiam se reunir. Vigilantes reprimiam grupos de mais de três japoneses que ousassem se agrupar.
O campo de concentração de Tomé-Açu foi mantido até 1945. Com o fim da guerra, esse e outros locais semelhantes que funcionavam pelo Brasil foram extintos. Os ex-prisioneiros foram libertados e muitos deles tiveram que recomeçar a vida a partir do zero. A região só se recuperou economicamente após o conflito, quando, impulsionada pelos imigrantes japoneses, chegou a se tornar a maior produtora mundial de pimenta-do-reino.
Fonte: BBC Brasil
Imagens: Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil e Biblioteca Pública Arthur Vianna