Brasil teve o partido nazista com maior número de filiados fora da Alemanha
Um levantamento recente apontou que existem mais de 300 células neonazistas em atividade atualmente no Brasil. Mas a história dessa ideologia no Brasil é antiga. Fundado no final da década de 1920, o Partido Nazista Brasileiro chegou a ter cerca de três mil membros, perdendo apenas para seu equivalente alemão em número de filiados.
A versão brasileira do Partido Nazista surgiu em 1928 na cidade de Timbó, no interior de Santa Catarina, cinco anos antes de Adolf Hitler se tornar chanceler da Alemanha. A forte presença de alemães na região sul do Brasil foi fundamental para a consolidação do partido. Em meados da década de 1930, havia mais de um milhão de alemães e descendentes no Brasil, a maior parte em Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Mas a presença do Partido Nazista não se restringiu ao sul do país: a legenda chegou a se espalhar por 17 estados, entre eles Bahia e Pernambuco. A adesão era mais forte entre os imigrantes que vieram para o Brasil entre os anos 1920 e 1930 para fugir da grave crise econômica que atingiu a Alemanha após a Primeira Guerra Mundial. Essa nova leva de alemães tinha mais contato com a ideologia nazista do que seus antecedentes que chegaram no fim do século XIX.
Após a ascensão de Hitler ao poder, a adesão à legenda aumentou. As atividades nazistas no Brasil eram coordenadas pela embaixada alemã no Rio de Janeiro e pelos consulados, especialmente os de Porto Alegre, Curitiba e São Paulo. Os agentes do partido tiveram à sua disposição diversos organismos e associações que permitiram uma propaganda intensa. Além disso, houve a infiltração de pessoas nas principais sociedades recreativas e culturais e nas escolas teuto-brasileiras. Nas cidades maiores, foram estabelecidos diretórios do partido (chamados Ortsgruppe — grupos locais) para coordenar as atividades.
Diretório do Partido Nazista em Florianópolis (SC)
Assim como na Alemanha, os nazistas do Brasil pregavam a segregação racial, a superioridade da "raça ariana" e o antissemitismo. Como a comunidade judaica no Brasil era relativamente pequena, o contato entre alemães e judeus era raro. Por isso, os alvos principais dos nazistas eram os negros e mestiços, que compunham 45% da população brasileira. Não há histórico de confrontos abertos entre as etnias, porém escritos registram que os nazistas olhavam com desprezo para essa parcela da população brasileira.
Apesar do grande número de filiados, a legenda não tinha pretensões de concorrer a eleições nacionais. O Partido Nazista nem ao menos era registrado na Justiça Eleitoral do Brasil. Como os nazistas não se intrometiam na política nacional, as autoridades do país não davam muita importância para eles.
Mas, com a consolidação do Estado Novo de Getúlio Vargas, o governo brasileiro mudou seu posicionamento em relação à ação nazista. Mesmo tendo angariado a participação de apenas 3% da comunidade alemã no país, o Partido Nazista se tornou motivo de preocupação. Antes tolerada, agora a atividade era vista como um perigo à estabilidade política e à soberania nacional.
Com a campanha de nacionalização instituída por Vargas, a comunidade alemã passou a sofrer com uma série de restrições que incluíam até mesmo a proibição do uso do idioma alemão. Nesse cenário, foram tomadas diversas medidas que aniquilaram as bases que suportavam a atividade política dos nazistas no Brasil. Por fim, um decreto de 18 de abril de 1938 colocou o Partido Nazista e todas as outras agremiações políticas estrangeiras na clandestinidade.
Em 1937, os nazistas comemoraram o dia 1º de Maio em Porto Alegre (RS)
Fontes: TAB, Gazeta do Povo e Fundação Getúlio Vargas
Imagens: Fundação Getúlio Vargas e Biblioteca Pública de Santa Catarina