Cientistas brasileiros fazem história ao desvendar mistério da origem dos pterossauros
Durante séculos, a origem dos pterossauros foi um dos maiores mistérios da paleontologia. Isso porque nenhum cientista havia conseguido identificar os parentes mais próximos desses animais voadores que dominaram os céus durante 150 milhões de anos. Agora, um grupo internacional que inclui pesquisadores brasileiros desvendou esse enigma.
Estudos feitos nos séculos XIX e XX diziam que os pterossauros estavam relacionados à linhagem dos arcossauros (grupo formado por crocodilos e aves, além de seus parentes extintos). A partir da década de 1980, a hipótese mais aceita entre os paleontólogos era a de que os dinossauros estariam mais próximos deles na escala evolutiva. Mas em um novo estudo, cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e de outras cinco instituições internacionais concluíram que os parentes mais próximos dos pterossauros são um grupo de répteis conhecidos como lagerpetídeos.
Os pesquisadores chegaram a essa conclusão ao analisar fósseis provenientes do Brasil, Argentina, Estados Unidos e Madagascar. Para alcançarem resultados mais precisos, os cientistas reconstruíram componentes dos sistemas sensoriais, tais como o cérebro e o ouvido interno, e fizeram análises filogenéticas, que determinam as relações ancestrais entre espécies conhecidas. Os detalhes do estudo foram publicados na revista Nature.
Ixalerpeton polesiensis
Os lagerpetídeos viveram no antigo supercontinente da Pangeia durante a maior parte do período Triássico (237 a 210 milhões de anos atrás). Até então acreditava-se serem eles os precursores dos dinossauros. Enquanto isso, os mais antigos registros dos pterossauros são da época do Triássico Superior (aproximadamente 220 milhões de anos atrás). Esses animais viveram na Europa e América do Norte e foram os primeiros vertebrados a desenvolverem a capacidade de voo ativo.
Para preencher essa lacuna histórica, que liga os pterossauros a outros répteis, foi necessário reunir cinco grupos de pesquisa diferentes de paleontologia localizados em três continentes. Os primeiros esforços surgiram de coletas independentes realizadas no noroeste argentino, no sul do Brasil, no meio-oeste dos Estados Unidos e em Madagascar. Segundo o professor Max Langer, as iniciativas resultaram na descoberta de novos lagerpetídeos: Ixalerpeton polesiensis, no Rio Grande do Sul; Lagerpeton chanarensis, na Argentina; Dromomeron romeri e Dromomeron gregorii, nos Estados Unidos; e Kongonaphon kely, em Madagascar.
O próximo passo foi reunir informações de todas essas espécies em um estudo filogenético, que determina as relações ancestrais entre espécies conhecidas. “Ficou claro que havíamos identificado o parente mais próximo dos pterossauros, que eram os lagerpetídeos”, afirmou Langer. O mistério foi elucidado, mas os pesquisadores ainda precisam compreender como os pterossauros adquiriram a capacidade de voar, já que seus parentes mais próximos, os lagerpetídeos, não possuíam esse atributo. “Precisamos saber se eles realmente viviam em árvores e se esse comportamento teria alguma influência nos pterossauros”, completou o pesquisador.
Ixalerpeton polesiensis
Fonte: Jornal da USP
Imagens: Jaroslav Moravcik / Shutterstock.com e Rodolfo Nogueira/Jornal da USP/Reprodução