Confira a entrevista exclusiva com Marcus Lemonis
No início de sua carreira, alguém o guiou, apoiou ou apostou em você?
Ao longo da minha vida, houve muitas pessoas que me ajudaram, sejam elas familiares, amigos ou outros líderes empresariais. Eu acredito que sempre serei eternamente agradecido pela oportunidade e acredito que uma das coisas pelas quais sempre lutamos é que existem pessoas com ótimas ideias e ótimos conceitos de negócio e que precisam apenas de alguém que lhes dê uma oportunidade. A mim quase sempre foi dada uma oportunidade e eu espero que as pessoas que me deram essa oportunidade se sintam orgulhosas do que alcançamos. E, sabe, estou certo que provavelmente elas sentem que são parte desse sucesso. E deveriam, não é mesmo? Elas têm que fazer parte disso.
Quando o assunto é dar uma oportunidade às pessoas, há negócios que me arrependo de ter feito. Mas tenho que ser honesto e culpo a mim mesmo por isso, pois ninguém me obrigou a fazê-lo. E se faço um investimento que acaba mal, me arrependo de tê-lo feito, mas do que realmente me arrependo é da decisão que tomei. Talvez eu tenha tomado a decisão de forma precipitada ou, no mínimo, a tomei dando a alguém a vantagem da dúvida, porque para mim, no passado, foi dada a vantagem da dúvida, e acredito que essas pessoas se sentem orgulhosas de mim. No entanto, acredito que existem muitas pessoas que querem só uma oportunidade e é disso que trata o programa, de dar uma oportunidade às pessoas.
“O Sócio” é um programa de entretenimento, mas está sendo investido dinheiro de verdade ali. Um bom episódio do programa pode ser automaticamente traduzido em um bom investimento?
Bem, na verdade eu não considero “O Sócio” um programa de entretenimento. Eu o considero um programa educativo. Estou muito convencido disso, mas sinto que o objetivo do programa é como fazer negócios e como não fazê-los. Como tratar as pessoas e como não tratá-las, e que erros os outros cometeram para ajudá-lo a não cometê-los também. Eu realmente considero que os primeiros 24 episódios são mais ou menos um manual do que você tem que fazer e do que não tem que fazer e do lado bom e ruim das empresas pequenas. Sim, imagino que seja divertido, mas não existe um pré-requisito de que os episódios devem ser divertidos, emocionantes ou sobre negócios. Você sabe, eu levo todos os negócios muito a sério, inclusive quando algumas personalidades são mais chatas que outras. Eu tenho uma postura séria de que é um programa educativo que se torna divertido por causa da vida que os personagens dão a ele. O que eu realmente quero é que as pessoas sintam que aprenderam algo depois de ver o programa. Para mim, esse é o objetivo.
Como você lida com tantos tipos diferentes de negócios? Avalia cada negócio caso por caso?
Uma grande quantidade de orações e horas meditando me leva a encontrar diferenças entre os personagens (risos). Mas você sabe que é um desafio e acredito que o que funciona melhor para mim é fazê-lo com a expectativa de que enquanto você está ajudando alguém, esse alguém também está aprendendo. E assim os negócios com todas essas personalidades são uma experiência de aprendizagem e se eu pudesse escolher um animal com quem me identifico melhor seria o camaleão, porque tive que aprender a me adaptar a diferentes personalidades e circunstâncias. E acredito que é isso que eu levo do programa. Se você está no negócio ou não, não pode tratar todas as pessoas da mesma forma. Cada pessoa tem que ser tratada individualmente e isso faz parte de respeitar quem ela é e o que faz.
Quais são os erros mais comuns cometidos pelos empresários quando abrem uma empresa?
Não contratam a equipe adequada e não entendem a importância que isso tem. Não começam com um bom capital porque pensam que o negócio vai ser bem-sucedido de imediato. Nunca pensam nos prejuízos que vão ter nos primeiros meses. Algumas vezes abrem as empresas por razões equivocadas, o que significa que não sabem necessariamente qual é o objetivo, e sua desejo de comandar fica acima de tudo.
Das empresas em que você trabalhou no programa, qual é a que tinha a pior situação quando você chegou?
Vou responder em duas partes porque há duas formas de olhar para isso. Pode-se estar na pior situação financeira ou pode-se estar em uma má situação de ideias ou emocional.
As empresas não são apenas números. Elas também estão relacionadas à natureza das pessoas. Por isso, há algumas empresas que encontro tanto o produto quanto o processo em migalhas. A Athen’s Motors, agora AutoMatch USA ou a 1-800-Car Cash são bons exemplos de empresas que têm um processo financeiro disfuncional, não entendem seus números e não entendem a importância do inventário ou algo parecido.
Mas, para mim, o maior problema é quando têm problemas ou estão disfuncionais no lado pessoal da empresa. Por exemplo, a LA Dogworks e a WorldWide Trailers são empresas em que se poderia investir todo o dinheiro do mundo para melhorar o produto e o processo, mas o mau caráter das pessoas destruiria tudo, e para mim é o problema mais comum.
Você acredita que os problemas enfrentados pelas empresas brasileiras são parecidos com o que enfrentam as empresas americanas? Você consegue ver padrões consistentes globalmente?
Sim, eu diria que em todo o planeta, em qualquer país e qualquer cidade, as empresas são sempre desafiadas ou premiadas pela qualidade de sua equipe. Então, se você está no Brasil ou em Miami, o fato de as pessoas serem o mais importante da empresa é um conceito que pode ser aplicado universalmente. A segunda coisa é que os produtos têm que ser relevantes para os consumidores, algo que é tão importante no Brasil quanto na Alemanha. Você não vai querer vender um produto que ninguém quer. E a última coisa é que o processo tem que ser correto. A interação com um cliente em Moscou ou no Brasil tem que ser um processo funcional. Em poucas palavras, as pessoas, o processo e o produto, na minha opinião, podem ser aplicados universalmente e acredito que as pessoas ainda lidam com isso em todos os cantos.
Quanto do que você faz nas empresas com problemas vem de obter lucro e quanto vem de ajudar a equipe?
Me dá vergonha de lhe dizer que o dinheiro, embora minha intenção seja sempre fazer dinheiro, não é meu único objetivo. Eu acredito muito que se você vive sua vida bem e que se realiza seus negócios a fundo, então o dinheiro será o resultado de tudo. Não é somente para ajudar os donos das empresas, mas também para ajudar os que trabalham nelas. É para ajudar as comunidades onde existem essas empresas, que no final das contas estão ajudando os fornecedores a fazer negócios, e também é uma grande ferramenta de aprendizagem para as pessoas que estão vendo o programa. E assim, em vez de ajudar só uma empresa em um único episódio, meu objetivo é ajudar várias empresas em diferentes locais, aplicando o conhecimento aprendido em seu próprio negócio. E se posso fazer dinheiro, e é isso que espero, é incrível, mas meu único objetivo é ser honesto com você.
O fator humano é a única coisa que me importa e se você investe em uma boa equipe, um bom produto e um bom processo, certamente vai fazer dinheiro. Nesses momentos, sinto que tive um bom retorno nos negócios em que investi coletivamente.
Ser um empresário em uma série é obviamente muito difícil e estressante. Você se vê fazendo esse trabalho nos próximos anos?
Sim. Sinto que esse é o meu objetivo. Todos temos diferentes objetivos na vida, certo? Sinto que ajudar as empresas pequenas e gastar 265 dias do ano fora da minha casa e fazendo sacrifícios tem um objetivo. Minha mãe foi muito clara comigo desde muito pequeno, dizendo que se eu quisesse ter sucesso nos negócios, teria que ter um objetivo claro. Eu acredito que meu objetivo é educar as pessoas por meio da minha experiência com os negócios e esforços e enquanto eu continuar aprendendo e crescendo para fazer isso, vou fazer pelo resto da minha vida.
No final da primeira temporada, você já tinha obtido lucros?
Sim, no final da primeira temporada eu já tinha obtido lucro com a 1-800-Car Cash e com a Mr. Green Tea.
O que uma pessoa que foi funcionária de uma empresa toda sua vida deveria fazer para se transformar em um empresário de sucesso?
Eu acredito que para que alguém se chame de empresário tem que ter trabalhado para outra pessoa para conseguir entender o que se sente ao ser responsável diante de outras pessoas. Deve-se saber o que se sente ao ter o risco de ser despedido, de trabalhar com pessoas que não gosta de trabalhar e entender a importância do trabalho em equipe. Por isso, eu penso que para ser um empresário você tem que ter feito tudo isso antes. Para poder ser um empresário de sucesso, depois de trabalhar para alguém por vários anos, o que você tem que fazer é nunca se esquecer do sentimento ao poder ser despedido, para que quando esteja com sua equipe, seja presente e saiba transmitir bem as mensagens. Também a capacitação da equipe, ser transparente e ser um bom líder. Faça tudo isso para que quando olhe para trás sinta “uau, eu realmente odiava esse chefe e agora sou igual a ele”.
Como você identifica se uma ideia é rentável e o que faz para promovê-la?
Bem, eu acredito que uma ideia rentável é uma ideia que tem aceitação universal e que você não sente como se fosse o último refúgio ou uma moda passageira. É algo que você pode ver e pensar para si mesmo: esse produto ou alguma versão dele terá relevância dentro de cinco anos? Pessoalmente, eu gosto de investir em coisas que eu sinto que têm o que eu chamo de “poder de permanência”, que estarão aqui hoje e estarão amanhã, talvez de uma forma diferente. Então seja uma empresa de automóveis, de alimentos, de roupas ou um cabeleireiro, essas são coisas que não vão desaparecer. No geral, fico afastado das coisas que parecem a melhor e mais nova, porque quero investir em negócios em longo prazo. Eu não sou um vendedor de empresas, sou o dono do negócio. E quando faço esse investimento, meu plano é me fixar nele o máximo que puder. É por isso que precisam ter poder de permanência. Eu sempre incentivo as pessoas a investir em coisas que estiveram aqui no passado, estão aqui hoje e vão estar aqui amanhã. Dessa forma, me identifico com algo que é rentável.
Como você seleciona os sócios para fazer negócios? E existe um número ideal deles?
Eu acredito muito que ter sócios em um negócio é a chave do sucesso, porque são várias personalidades, dando várias ideias, com diferentes níveis de experiência. Não acredito que deveria haver um número máximo de sócios de trabalho, desde que cada um deles esteja trazendo algo para a mesa, além do dinheiro. Eles trazem uma rede de contatos ou um certo nível de experiência e conhecimento que não pode ser adquirido em nenhum outro lugar.
No início, me identifico normalmente com as pessoas me baseando unicamente no seu caráter. Sua experiência e conhecimento vêm em segundo lugar, com uma ênfase muito importante no caráter.
Você gostaria de investir em ideias e em novas empresas no Brasil?
Estou aberto para investir em ideias de qualquer país, contanto que eu goste da equipe que está por trás do conceito e eu sinta que o produto tem certa relevância no mercado. Mas o mais importante é que eu possa realizar uma troca. A pergunta mais difícil que tenho que fazer para mim mesmo é: Posso realmente ser impactante e agregar algum valor? Se posso assinar um cheque, se posso dar ideias, quero ser capaz de agregar valor em longo prazo. Por isso, quando se trata de investir fora do meu mercado principal, quero realmente me certificar de que posso agregar valor.
Quais são os seus cinco melhores conselhos para começar um negócio novo e bem-sucedido?
1. Entender qual é a razão, acima de tudo, para começar o negócio e por que você está fazendo isso.
2. Ser honesto consigo mesmo sobre suas habilidades em ser um verdadeiro líder e, ao fazer isso, determinar quem precisa estar ao ser lado para você ser bem-sucedido. Você não pode ser bom em tudo. Você tem que ser capaz de reconhecer isso e ficar rodeado de pessoas que preencham essas lacunas.
3. Ter um plano e se certificar de que o plano é realista e não demasiado otimista. E talvez, inclusive, ser um pouco pessimista para estar preparado para as dificuldades.
4. Ter certeza de que você tem uma quantidade adequada de capital de trabalho não apenas para começar o negócio, mas também para investir no seu crescimento. Ter a quantidade adequada de capital de trabalho em efetivo para manter sua dívida mínima. Também se deve evitar fazer empréstimos a familiares e amigos, a não ser que seja o último recurso.
5. Saber quando uma ideia boa se transformou em uma ideia ruim, saber quando esquecer suas perdas e poder seguir adiante.
O que você pode nos dizer sobre a relação diária que tem com os proprietários das diferentes empresas que você apoia em “O Sócio”?
Há um terrível equívoco e é quando o programa termina, pois minha relação com os negócios muda. Eu quero lhe dizer com firmeza que a quantidade de trabalho que dedico aos negócios depois que o programa foi gravado é quatro ou cinco vezes mais que o dedicado durante o período de filmagem, porque as coisas se desenvolveram, as relações mudaram e novos fatos se revelaram. Estou gastando uma quantidade excessiva de tempo me assegurando de que essas pessoas não sintam que eu me precipito para ajudá-las e depois desapareço quando o programa termina. Mas, na verdade, e em alguns casos, estou mais presente depois de acabar a filmagem do que quando estive durante a gravação. É uma grande responsabilidade, e pode ser extremamente difícil.
Não gosto de apontar outros programas de TV, porque eu não sou assim, mas há outros programas no qual mostramos uma mudança nos negócios, mas não se investe dinheiro e o sucesso ou fracasso dos programas é assustador. Se nos fixamos na quantidade de empresas que participaram de um programa de mudanças e que fracassaram quando acaba o programa isso impressionaria muitas pessoas. O único motivo é porque essas pessoas não investem financeiramente no negócio. Quando você faz uma sociedade com alguém, está fazendo um compromisso financeiro, emocional e moral. Não é porque o programa terminou que esses compromissos vão acabar.
Com a crise econômica mundial, quais são as fórmulas que os proprietários de empresas pequenas de todo o mundo têm que seguir para serem bem-sucedidos?
1. Certificar-se de que você está administrando seu negócio como um negócio pequeno em relação ao capital; ser conservador com seu dinheiro. Ser responsável com seu inventário. Cobrar o dinheiro que lhe devem. E o mais importante é negociar as melhores ofertas. No entanto, se seu negócio cresce de pequeno a médio ou a grande, você tem que continuar administrando-o conservadoramente como se ainda fosse um negócio pequeno. Isso é algo muito importante para se levar em consideração.
2. Procure se associar a outras empresas que têm uma oferta de produtos parecidos ou complementares para criar sinergias ou diminuir seus custos e os deles.
3. Traga sócios, inclusive se você precisa do dinheiro, para que eles o desafiem, para ser melhor, para ser pressionado no bom sentido, para que lhe façam perguntas que você não quer responder nunca, para se certificar de que você está melhorando e de que o funcionamento do seu negócio tem mais força. Mesmo se a economia estiver bem, administre-o como se estivesse mal, já que esta pode cair a qualquer momento e você estará preparado para que isso não o afete.
Sendo você um homem de negócios, como decide quais países representam o menor risco de investimento?
Infelizmente, por definição, quando você está investindo em empresas pequenas que estão em crise, isso representa um grande risco. Acredito que o maior desafio para mim é que tenho uma inclinação maior pelo risco que a maioria das pessoas, porque acredito nas pessoas, sinto que podem mudar e melhorar. Por isso, não me meto no negócio pensando em quão arriscado aquilo pode ser, mas pensando na pessoa e no tanto de oportunidade que eu acredito que exista. Cada negócio possui seus riscos. Acredito que pra fazer investimentos empresariais pensando em minimizar drasticamente os riscos é melhor chamar um jovem empresário, porque a definição de empresário é trabalhar duro e se arriscar.
Se a empresa está mal, quais são as fórmulas que você aplicaria para lhe dar uma renovada e torná-la bem-sucedida?
A primeira coisa que eu gostaria de fazer é pedir aos donos que se olhem no espelho e se perguntem se eles são a razão para a empresa estar fracassando. Eles têm que ser conscientes e fazê-lo na intimidade, mas têm que ser honestos com eles mesmos. A segunda coisa é olhar detalhadamente para o produto que estão fazendo, vendendo ou serviço que estão prestando e determinar se estão alinhados com o mercado. Seu produto é relevante? Os preços são adequados? Vocês estão cuidando de seus clientes? E, por último, se o negócio está passando por um momento ruim, você tem que entender o que a competição está fazendo para ganhar de você. O plágio é uma coisa terrível, exceto no mundo dos negócios. O plágio nos negócios é o que eu chamo de copiar as melhores práticas das pessoas ou empresas. Se um time de futebol tem uma jogada particular que faz todas as semanas e lhes permite fazer sempre gols, não há nada de errado em outro time copiar essa jogada e aperfeiçoá-la. Se falta ao time de futebol um bom jogador, não há nada de errado em sair e buscar esse jogador para que sejam melhores. Se a forma com que estão jogando não é eficiente nem disciplinada, não há nada de errado em copiar o que os outros fazem para conseguir ser melhor ou mais disciplinado. Olhar para pessoas que são melhores que você é sempre a melhor forma de consertar o seu negócio e aceitar que os outros são melhores que você é a coisa mais difícil. A maioria das pessoas pensa que é melhor que as outras, e não é.
Há mais alguma coisa que você gostaria de compartilhar com os jornalistas?
Sabe, acredito que nos últimos 20 anos a economia mundial está confusa em relação ao que significa sucesso. Na minha cabeça, o objetivo principal desse programa é ajudar a redefinir o que eventualmente significa o sucesso. Não pode ser somente sobre o luxo excêntrico, não pode somente sobre despedir e gritar com as pessoas e não deve ser somente sobre coisas luxuosas. Você tem que voltar ao básico. Para mim, o sonho dos negócios em qualquer país, sem importar onde você esteja, é poder ser o dono de um negócio, pagar suas contas a tempo, proporcionar um teto para sua família, educar seus filhos, empregar pessoas e pagar em dia, proporcionando um bom produto ou serviço para a comunidade que o rodeia, e a última coisa seria fazer dinheiro. Se alguma dessas coisas se desequilibra, então a fórmula não vai funcionar. E não importa em que país você viva ou em que cidade esteja. Nós, como indivíduos, temos conseguido manter nossas cabeças ocupadas por um tempo e espero que esse programa possa proporcionar inspiração e ser educativo para o público e que tudo isso possa ser aplicado em seu próprio negócio, sua própria vida e você conseguir ser um pouco melhor.