Epidemia do sono: estranha doença afetou milhões de pessoas nos anos 1920
Quem leu as histórias em quadrinhos do Sandman ou assistiu ao novo seriado que adapta a obra de Neil Gaiman para a TV já ouviu falar na epidemia do sono. Apesar de parecer ficção, essa doença realmente existiu e afetou milhões de pessoas nas décadas de 1910 e 1920. O mais surpreendente é que até hoje a causa dessa moléstia ainda não foi completamente desvendada.
Encefalite letárgica
A encefalite letárgica, como a doença ficou conhecida, deixava as pessoas em um estado de torpor e sono profundo. "Eles se sentavam imóveis em suas cadeiras e não falavam o dia todo, totalmente sem energia, ímpeto, iniciativa, motivação, apetite, afeto ou desejo", disse o médico Oliver Sacks, que na década de 1960 atendeu pacientes que haviam contraído a doença anos antes. Segundo ele, os portadores da moléstia eram "tão passivos quanto zumbis".
Os primeiros casos de encefalite letárgica foram descritos entre 1916 e 1917 na Europa pelo médico Constantin von Economo. Acredita-se que mais de um milhão de pessoas em todo o mundo tenham contraído a doença, que ataca o sistema nervoso central. A moléstia começava com sintomas semelhantes aos da gripe, mas o quadro evoluía rapidamente e os pacientes passavam a apresentar sintomas neurológicos.
Os portadores da doença dormiam por longos períodos de tempo, além de sofrerem de confusão mental e delírios. Pacientes que apresentavam os sintomas mais graves tinham 50% de chance de sobrevivência. Mesmo as pessoas que se recuperaram, sofreram sequelas que duraram por anos após a infecção.
Como o aparecimento da encefalite letárgica coincidiu com a pandemia de gripe espanhola, suspeitou-se que as duas doenças pudessem estar conectadas. Também especulou-se que a doença do sono pudesse estar relacionada com a poliomielite ou resultasse de uma condição autoimune. Até hoje não há evidências suficientes para provar nenhuma das teorias.