Fake news que condenam: Escola Base, linchamento no Guarujá e "pânico satânico"
Casos de notícias falsas que resultam em consequências trágicas não são raros. No Brasil e no mundo, pessoas foram perseguidas, condenadas e até mesmo mortas devido a acusações inverídicas. Confira abaixo alguns dos episódios mais conhecidos:
Escola Base
O caso da Escola de Educação Infantil Base, em São Paulo, se tornou um dos maiores exemplos de como as fake news podem ter consequências nefastas. Em 1994, as mães de duas crianças registraram boletins de ocorrência pois suspeitavam que seus filhos de quatro e cinco anos eram abusados sexualmente na escola. Segundo a denúncia, os donos do estabelecimento, um motorista de transporte escolar e um casal de pais faziam orgias com as crianças.
O que aconteceu em seguida foi uma sucessão de erros. Para pressionar os policiais por um desfecho rápido, as mães chamaram a imprensa. O delegado responsável pelo caso apresentou um laudo do IML que supostamente comprovaria o abuso a uma criança. A partir daí os suspeitos foram tratados como culpados por diversos veículos de comunicação.
Nos dias seguintes, a Escola Base foi apedrejada e saqueada. O casal de pais suspeitos do crime chegou a ser preso. Ao fim das investigações, ficou comprovada a inocência de todos os envolvidos, que foram indenizados por danos morais e materiais. Mas o estrago já estava feito: com a reputação arruinada, todos eles enfrentaram dificuldades para se reerguerem.
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Mulher linchada no Guarujá
Em 2014, um boato de que uma "bruxa" estaria sequestrando crianças para realizar rituais de magia negra no Guarujá (SP) se espalhou pelas redes sociais. Logo depois, um retrato falado passou a ser associado com o hipotético crime. No dia 3 de maio daquele ano, moradores do bairro Morrinhos confundiram a dona de casa Fabiane Maria de Jesus com a suposta criminosa depois de ela ter oferecido uma fruta para uma criança que estava na rua.
A mãe do menino presenciou a cena e acreditou que Fabiane fosse a suposta sequestradora. O livro preto que ela carregava foi logo associado ao satanismo pelos agressores (na verdade, ela segurava uma Bíblia). A confusão desencadeou um processo de fúria coletiva que culminou no linchamento da mulher por cerca de 100 pessoas. Ela acabou sendo resgatada, mas morreu dois dias depois.
Fabiane tinha 33 anos, era casada e tinha duas filhas, uma de um ano e outra de 12. Três acusados de terem participado da morte da dona de casa foram condenados a 40 anos de prisão, e outro a 26 anos de reclusão. De acordo com a polícia, não havia nenhuma denúncia de sequestros de crianças no Guarujá.
"Pânico satânico" nos Estados Unidos
Entre o final dos anos 1980 e começo dos anos 1990, um fenômeno midiático tomou conta dos Estados Unidos: o "pânico satânico". Circulavam diversas notícias sensacionalistas a respeito de supostos crimes cometidos por satanistas em todo o país. No meio da histeria coletiva, o casal Fran e Dan Keller acabou preso e condenado injustamente.
Em 1992, em um caso que chamou a atenção da imprensa, os dois foram acusados abusar sexualmente de uma menina de três anos em sua creche nos arredores de Austin, Texas. O casal também foi apontado por promover supostos rituais satânicos. Entre eles, estavam sacrifício de bebês, a amputação do braço de um gorila e cerimônias secretas realizadas em cemitérios. Após terem sido julgados, os Kellers foram condenados a 48 anos de prisão, apesar da escassez de provas.
O casal só foi libertado em 2013, após o médico que havia fornecido a única evidência física da suposta agressão à menina admitir que tinha cometido um erro. Quatro anos depois, Fran e Dan Keller foram inocentados e indenizados em 3,4 milhões de dólares.
Fontes: Hipercultura, Folha de S. Paulo e History
Imagens: Reprodução e Shutterstock.com