A história do zagueiro morto por um gol contra
Por Thiago Gomide do Tá na História.
Parceria HISTORY e Ta Na História
Em 1994, eu tinha 9 anos. O Brasil não ganhava nada desde 70. Na Copa do Mundo de 1990, fomos um fiasco. Tudo indicava que iriamos repetir a dose.
Essa descrença caminhava opostamente a seleção da Colômbia, que tinha vencido a Argentina por 5 a 0 em pleno Monumental de Nunez.
A Colômbia que o Pelé, sempre Pelé, tinha dado como favorita. A Colômbia que contava com um time de ouro: Valderrama, Asprilla, Rincon e com Andrés Escobar, um zagueiro prometido ao Milan, conhecido como o cavalheiro.
Escobar era ídolo no Atlético Nacional de Medellin, time que o Pablo Escobar torcia. Foi campeão da Libertadores em 1989.
Quem viu aquele time da Colômbia, lembra bem.
Na Copa do Mundo, a realidade foi bem distinta. O grupo era complicado: tinha a Romênia, com o habilidoso Hagi, tinha os Estados Unidos, dono da casa, e tinha a Suíça.
O primeiro jogo contra a Romênia foi pauleira. Tomou de 3 a 1.
Decepção total.
Na véspera do segundo jogo, logo contra os Estados Unidos, o hotel que os jogadores estavam hospedados recebeu fax e ligações anônimas ameaçando o meio de campo Gabriel Barrábas Gomez e o técnico Francisco Maturama.
Se Gomez não fosse barrado, os dois seriam mortos. A família de Barrábas também seria executada.
Imagina a tensão. Maturama barrou o jogador chorando.
O jogo contra os anfitriões foi também duro.
Escobar, por imenso azar, acabou fazendo um gol contra. O gol que eliminou a Colômbia do torneio. O gol que acabou com um sonho, com a chance mais clara do país ser campeão de uma Copa.
Os Estados Unidos do goleiro Tony Meola e do zagueirão Lalas venceu por 2 a 1.
10 dias depois, Andrés Escobar estava em frente a uma boate, em Medellin. Um grupo de homens veio reclamar com ele por ter feito o gol contra.
“Me respeite”, pedia o zagueiro.
Após rápida discussão, tiros.
Escobar estava morto por traficantes de drogas. Morto por ter feito o gol contra.
Os detalhes dessa história, eu conto no vídeo. Vale relembrar o fato que chocou o mundo, expôs mais uma vez as fragilidades da segurança na Colômbia e a que ponto pode chegar o fanatismo.
THIAGO GOMIDE é jornalista e pesquisador. Foi apresentador e editor do Canal Futura e da MultiRio, ambos dedicados à educação. Escreveu e dirigiu o documentário "O Acre em uma mesa de negociação". Além de ser o responsável pelo conteúdo do Tá na História, atualmente edita e apresenta o programa A Rede, na Rádio Roquette Pinto ( 94,1 FM - RJ).
A proposta do Tá na História é oferecer conteúdos que promovam conhecimento sobre personagens e fatos históricos, principalmente do Brasil. Tudo isso, claro, com bom humor e muita curiosidade.