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Historiador e policial antifascista comenta a longa trajetória do nazismo no Brasil

Por History Channel Brasil em 19 de Maio de 2020 às 18:58 HS
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Apesar de ter uma das populações mais miscigenadas do mundo, o Brasil sempre foi um celeiro para o nazismo. A ideologia começou a conquistar simpatizantes no país ainda no final da década de 1920. Atualmente, estima-se que 300 células neonazistas estejam em atividade por aqui. Mas qual a origem desse movimento em terras brasileiras?

"As colônias alemãs e italianas foram centros de propagação do ideário nazista e fascista", diz Leonel Radde, policial civil antifascista, historiador e mestre em Direitos Humanos. "Inclusive o maior partido nazista fora da Alemanha era o brasileiro", completa. A versão brasileira do partido surgiu em 1928 na cidade de Timbó, no interior de Santa Catarina, cinco anos antes de Adolf Hitler se tornar chanceler da Alemanha. A legenda chegou a se espalhar por 17 estados, reunindo cerca de três mil filiados

Antes de se juntar aos Aliados na Segunda Guerra Mundial, o Brasil manteve relações de amizade e cordialidade com a Alemanha nazista durante a década de 1930. Em 1933, o governo passou a emitir as chamadas "circulares secretas", que visavam dificultar, ou até mesmo impedir, a entrada no Brasil de judeus que fugiam do nazismo. "Havia uma simpatia por parte do governo Getúlio Vargas, que deportou diversos comunistas e judeus para a Alemanha. O caso da Olga Benário é o mais famoso", diz Radde. 

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Outro movimento que floresceu no Brasil na mesma época foi o integralismo. Radde salienta que os integralistas adaptaram o conceito fascista para o nosso país, focando no fator do nacionalismo. Liderado pelo escritor e jornalista brasileiro Plínio Salgado, o movimento tinha caráter ultranacionalista, corporativista e conservador. Em 1936, a Ação Integralista Brasileira reunia entre 600 mil e um milhão de membros. Recentemente, o movimento voltou a aparecer.

Após a derrota da Alemanha, muitos nazistas alemães fugiram para a América do Sul, incluindo o Brasil, como o "Anjo da Morte" Josef Mengele.  Segundo Radde, depois do fim da Segunda Guerra, movimentos de extrema-direita nunca deixaram de existir no país e foram se modificando. "Nas décadas de 1970 e 1980, (os nazistas) começaram a se misturar com o movimento skinhead, surgido na Inglaterra, que era formado por operários que escutavam música jamaicana e que depois foi apropriado pela extrema-direita", conta Radde. No Brasil, dessa vertente se destacaram grupos como os Carecas do ABC, de São Paulo.

Dos grupos neonazistas atuais, a maioria está concentrada nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. De acordo com Radde, apesar de independentes, esses grupos se comunicam entre si, inclusive propagando o ideário de extrema-direita por meio da música. Segundo ele, fazem parte do movimento bandas escancaradamente neonazistas e outras que não usam simbologia tão explícita por receio de serem enquadradas no crime de apologia ao nazismo. 

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Alguns desses grupos têm vínculos com organizações similares de fora do Brasil, principalmente na América Latina. Radde diz que grupos neonazistas da Alemanha e de outros países europeus costumam rejeitar seus pares brasileiros porque eles não são de "raça pura". A exceção são grupos da Ucrânia, que se comunicam com alguns neonazistas brasileiros.

A presença online desses grupos é marcada pela propagação de conteúdos de apologia ao nazismo, como falas de Adolf Hitler. Fora da internet, eles costumam agir de forma violenta agredindo e perseguindo minorias. Em 2018, um trio de neonazistas foi condenado por atacar três judeus em Porto Alegre com golpes de facas e canivetes. Os agressores faziam parte de um grupo skinhead que prega ódio contra grupos étnicos e sociais, como judeus, negros, homossexuais e punks. 

Pela lei brasileira, apologia ao nazismo é crime. Nem é necessário haver atos de violência ou incitação direta à violência para que o delito ocorra. O código penal prevê pena de reclusão de dois a cinco anos para quem "fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo". 

Estados como São Paulo e Rio de Janeiro contam com delegacias de repressão aos crimes raciais e delitos de intolerância. Esses órgãos são responsáveis por  investigar casos que tenham como motivação crimes de ódio e discriminação, como racismo, injúria, xenofobia, homofobia e outros tipos de preconceito. 

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Imagens: Domínio Público/Divulgação, Wikimedia Commons, Biblioteca Pública de Santa Catarina e Polícia Civil de Santa Catarina