O Brasil declara guerra ao Eixo
por: João Barone
O cenário de uma guerra global que se ampliava no começo de 1942 era bastante complexo, especialmente para os Estados Unidos, que se tornaram os defensores da democracia mundial. Dentro em breve, o fantástico parque industrial americano estaria totalmente voltado para fornecer as armas na luta em prol da liberdade. Seria um esforço notável manter a guerra em dois penosos fronts, contra os nazistas e fascistas no Ocidente e contra os Japão Imperial no Oriente. Os russos - que começaram a guerra como parceiros dos nazistas - também seriam protagonistas de ações quase acima da capacidade humana para combater os alemães, que em 1941, viraram inimigos e invasores de seu território. Stalin não descansaria até chegar à Berlim. Na América, havia a preocupação do crescimento das ações de submarinos nazifascistas nos mares do Atlântico Norte e Sul, além de qual seria o destino das colônias de países ocupados pelo Eixo, no Oriente e, especialmente, na África do Norte e América do Sul. Criou-se uma paranoia de que os alemães poderiam atacar a costa da América do Sul, partindo das colônias francesas ocupadas na África. A extensa costa brasileira se tornou ponto de defesa estratégico das Américas, algo que os Estados Unidos já vislumbravam antes mesmo do começo do conflito. Não foi por acaso que os americanos planejaram a construção de campos de pouso para futuras bases aeronavais no nordeste brasileiro, tendo como fachada o desenvolvimento da aviação comercial. Ao entrarem na guerra, os Estados Unidos focaram esforços para a luta no Norte da África, onde as forças britânicas sofriam reveses dos alemães e italianos. Por isso, o litoral do nordeste brasileiro se tornou ponto de grande importância estratégica pela sua proximidade com a África, com o funcionamento das bases aeronavais em pontos chave como a ilha de Fernando de Noronha e nas capitais nordestinas Natal e Recife, uma vez que Vargas assim permitiu. Esse apoio não sairia de graça para o agora autoproclamado "presidente" brasileiro.
Parnamirim Field, ao sul de Natal - RN: a maior base da Força Aérea norte-americana, em território estrangeiro, durante a Segunda Guerra Mundial. Serviu como ponto de partida para muitas aeronaves americanas que levavam tropas ao front da África.
Os chamados acordos de Washington realizados ente os governos brasileiro e americano promoveram a tão esperada renovação das forças armadas nacionais. Em pouco tempo, o Brasil receberia navios, armas, veículos militares e aviões para a reestruturação do exército, marinha e aeronáutica, que estavam muito defasados tanto em equipamento como na antiquada doutrina militar francesa herdada pós Primeira Guerra. Militares americanos vieram treinar os brasileiros e prepara-los para ações de guerra. Hitler autorizou operações mais ousadas de submarinos do Eixo, aumentando os ataques e afundamentos dos navios ingleses e agora americanos no Atlântico Sul. Em março de 1941, um navio brasileiro que navegava no Mar Adriático foi atacado por um avião nazista, vitimando um marinheiro. Em 1942, dezenas de navios brasileiros foram atacados, com o primeiro afundamento do cargueiro Cabedelo ocorrido em março, no Caribe. Começavam as patrulhas antissubmarino na costa brasileira. Em agosto, mais de 600 brasileiros morreram nos cinco navios torpedeados pelo submarino U-507. Mais de uma dezena de navios brasileiros foram afundados com centenas de mortos, antes de Vargas finalmente declarar o estado de beligerância contra o Eixo, em 22 de agosto de 1942. A guerra chegava ao Brasil pelo mar.
João Barone é mais conhecido como o baterista da banda PARALAMAS DO SUCESSO. Além disso, Barone é um dos brasileiros que mais entendem sobre a participação do nosso país na Segunda Guerra Mundial, tendo escrito dois livros sobre o assunto e produzido o especial O CAMINHO DOS HERÓIS, que estreia no HISTORY na quinta, dia 31 de julho, às 23H. |