O envolvimento dos bancos britânicos com a escravidão no Brasil
Em 1833, a Grã-Bretanha aboliu a escravatura. De acordo com uma lei promulgada naquele ano, era proibido comercializar ou ser dono de escravos no Império Britânico, com exceção "dos territórios em posse da Companhia das Índias Orientais", Ceilão (agora Sri Lanka ) e Santa Helena. Apesar disso, bancos britânicos continuaram a lucrar com a exploração de pessoas escravizadas no Brasil até 1888, quando a Lei Áurea entrou em vigor.
O historiador Joe Mulhern é autor de um estudo sobre o envolvimento britânico com a escravidão no Brasil. Na pesquisa, ele aborda principalmente como os bancos da Grã-Bretanha lucraram com a escravidão no Brasil. O trabalho foi apresentado como tese de doutorado na Universidade de Durham.
Apesar de a Grã-Bretanha ter passado a exercer pressão diplomática para que o Brasil também abolisse a escravidão, isso não interessava a muitos homens de negócios daquele país. "Eles pressionavam para que seus negócios fossem protegidos, com os mesmos argumentos para defender a escravidão usados no Reino Unido antes de 1833", disse Mulhern em entrevista à BBC Brasil.
Segundo Mulhern, as instituições financeiras britânicas lucravam de diferentes formas. Uma delas era por meio de empréstimos e a compra de títulos do Tesouro, envolvendo relações indiretas com a economia escravocrata. Outro modo era mais direto: bancos e seus executivos ofereciam apoio financeiro para o tráfico de escravos ou para fazendas que usavam esse tipo de mão de obra.
A pesquisa aborda casos em que pessoas escravizadas usadas como garantia de empréstimo para bancos britânicos foram leiloadas para quitar dívidas. Instituições como o London and Brazilian Bank se envolveram com atividades relacionadas à escravidão até a abolição da prática no Brasil. Um de seus donos chegou a ser proprietário de escravos. As relações entre banqueiros britânicos e escravocratas brasileiros aconteciam às escondidas, já que a opinião pública da Grã-Bretanha condenava a escravidão. Assim, casas bancárias brasileiras eram usadas como intermediárias nos negócios.
Fonte: BBC Brasil
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