O Grande Fedor: terrível cheiro de esgoto tomou conta de Londres em 1858
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O Grande Fedor foi um evento inusitado que marcou a história de Londres em 1858. Entre julho e agosto daquele ano, a cidade enfrentou uma das maiores crises de poluição atmosférica de sua história devido à falta de um sistema de esgoto eficaz. O resultado foi um odor insuportável que se espalhou por todo o território londrino.
Na época, Londres era uma das maiores cidades do mundo, com uma população em rápido crescimento e uma infraestrutura inadequada para lidar com os desafios impostos pelo aumento da quantidade de habitantes. A cidade estava repleta de indústrias, residências e estabelecimentos comerciais, mas contava com um sistema de esgoto ineficiente. Para piorar, tanto os resíduos das casas quanto o detrito proveniente das fábricas desembocavam diretamente no rio Tâmisa, a principal fonte de água para os londrinos.
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Durante o verão de 1858, uma combinação de temperaturas elevadas e baixa vazão do rio Tâmisa resultou na exposição de grandes quantidades de lama e detritos que normalmente ficavam submersos. Essa exposição causou uma reação química que liberou gases malcheirosos contendo sulfeto de hidrogênio e outros compostos, criando um odor extremamente fétido que se tornou insuportável para os londrinos. A situação se tornou tão grave que o Parlamento Britânico foi forçado a interromper suas sessões, pois os parlamentares não conseguiam mais suportar o mau cheiro nas salas de reuniões.
Em julho de 1858, o jornal Illustrated London News publicou um artigo sobre "a grande questão" da poluição do Tâmisa e exigiu que algo fosse feito a respeito. O texto descrevia o rio como um "esgoto imundo, um rio de poluição, um córrego da morte, infeccionado e fedorento com todos os cheiros abomináveis e ameaçando três milhões de pessoas com pestilência". Há relatos de que algumas pessoas que chegaram muito perto do Tâmisa sofreram desmaios e vômitos devido ao fedor que emanava do rio.

No início de julho de 1858, mais de 200 toneladas de cal foram jogadas no Tâmisa, perto da foz dos esgotos, em uma tentativa de combater o cheiro horrível. O processo, que tinha o objetivo de desinfetar o material poluente na água, foi realizado regularmente durante 1858 e 1859. As substâncias empregadas nessa operação de limpeza incluíam giz de cal, cloreto de cal e ácido carbólico.
Para contornar definitivamente o problema, foram tomadas medidas para melhorar o sistema de esgoto de Londres, incluindo a construção de uma nova rede de esgoto subterrânea, projetada pelo o gênio da engenharia Sir Joseph Bazalgette. As obras começaram em 1859 e foram concluídas em 1875. Em 1887, o despejo de esgoto no Tâmisa havia parado completamente. Essas melhorias foram cruciais para prevenir futuros episódios de poluição e melhorar a qualidade de vida dos londrinos.