A Revolução de 1932 na divisa entre São Paulo e Minas Gerais
Por Ricardo Della Rosa, do canal Passado Presente
Visitamos a cidade de Cruzeiro e o célebre Túnel da Mantiqueira, onde ocorreram algumas das maiores batalhas da Revolução de 1932 e vimos que muitos vestígios daqueles dias longínquos de 32 ainda estão ali.
A placa abaixo, perfurada de balas de todos os calibres não deixa dúvidas que aquele recanto do Vale guarda uma certa intimidade com a guerra.
A estação de Cruzeiro (em lamentável estado de abandono) foi ponto chave para as tropas paulistas em 1932. De lá saíam os trens blindados em direção aos postos avançados em Bianor na fronteira com o Rio de Janeiro, chegavam trens com voluntários de todas as cidades do Estado de São Paulo e ali por um grande período de tempo ficou estacionada a locomotiva usada como Q.G. pelo Coronel Euclydes Figueiredo.
Na foto abaixo vemos o colégio onde foi assinado o Protocolo de Cruzeiro em 2 de outubro de 1932, pondo fim nas hostilidades entre as tropas paulistas e as tropas ditatoriais.
Com um enorme quarteirão de extensão, os gigantescos galpões industriais abaixo eram a sede das Oficinas Bélicas de Cruzeiro - que produziram boa parte do armamento paulista usado em 32. Hoje o prédio está aparentemente abandonado.
Do mirante no alto da cidade é possível contemplar a bela cidade aos pés da Serra da Mantiqueira. A cidade possui o pomposo título de "Capital da Revolução de 1932", mas infelizmente o descaso com a história é gritante em todos os pontos de interesse na cidade - uma pena, pois com algum investimento em restauração e propaganda, a cidade poderia receber hordas de turistas interessados neste tema. É o famoso descaso da maioria dos governantes brasileiros com a nossa própria história. Após Cruzeiro a nossa próxima parada é o célebre Túnel da Mantiqueira.
Próximo a entrada para a boca do Túnel da Mantiqueira temos alguns interessantes monumentos aos que tombaram naquela região. "VÊ OS MORTOS GLORIOSOS TE FITAM ENTRE AS BRUMAS DAS NOSSAS MONTANHAS".
A partir deste ponto, qualquer um que conhece a história de 32 segue o percurso com os pelos dos braços constantemente arrepiados e com uma sensação mágica de estar caminhando numa linha tênue entre o presente e o passado: Nestas montanhas a fé dos soldados constitucionalistas foi duramente testada. Estas montanhas são testemunhas silenciosas dos atos de bravura de quem lutou por um ideal e dos dramas pessoais daqueles que encontraram a morte ou voltaram para casa terrivelmente feridos e mutilados. Heróicos soldados brasileiros.
A linda vista da Garganta do Embaú, caminho dos Bandeirantes e caminho das tropas constitucionalistas - Desde sempre, rota da brava gente paulista rumo às suas maiores aspirações.
Nossa pequena expedição descendo a caminho do Túnel.
Posso afirmar que encarar a famosa boca do Túnel de frente é uma experiência extraordinária, como se você estivesse entrando em uma figura de um livro. Deste ponto os paulistas chegaram até a cidade mineira de Passa Quatro, depois retraíram a linha de volta para território paulista - mas mantiveram intransigentes a posição no túnel até a manhã de 13 de setembro, quando a frente foi novamente recuada. Duas semanas depois foi assinado o fim da luta armada.
Pelas fotos abaixo é possível fazer a comparação entre a altura atual do túnel e a que havia em 1932 antes do alargamento para composições mais altas.
Tropas paulistas defendendo o limite do estado em 1932.
Tropas mineiras posando para foto após atravessarem o túnel.
Uma rara imagem da solitária máquina 51 usada para bloquear o lado paulista.
Na famosa foto abaixo é possível ver as três casinhas que ficavam do lado esquerdo da boca do túnel - foram usadas pelos paulistas como Q.G. avançado. Hoje restam apenas ruínas no local. O descaso com a história colocou abaixo não uma, mas TRÊS "Casas do Grito". É muito triste.
Essa é a visão que quem segue adiante pelo lado paulista rumo a Passa Quatro em Minas Gerais. Recentemente o túnel foi invadido por "caça-fantasmas" por conta de uma reportagem exibida na televisão. O único espírito que você vai encontrar aqui é o Espírito Paulista. E é exatamente por este que nossa expedição procurava.
Uma bela foto do bloqueio paulista dentro do túnel. Algumas metralhadoras pesadas davam as boas vindas a quem ousasse seguir rumo a São Paulo.
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Fazendo uma pequena garimpagem por entre as pedras do túnel. Se você tiver sorte pode acabar encontrando alguns vestígios do passado.
Essa é a vista da saída do lado mineiro, eternizada pelo instantâneo abaixo.
Já quem avançasse em direção a São Paulo, veria algo parecido com isso: O vulto da máquina 51 visto de frente.
A boca do lado mineiro.
Pausa para uma água pura das montanhas.
A famosa Estação Túnel que mudou de nome durante a revolução, em homenagem ao Coronel Fulgêncio de Souza Santos da Força Pública de Minas Gerais, morto em combate naquele local, no dia 30 de julho de 1932.
Uma pequena sobreposição de imagens une o passado e o presente.
Criada em 1983, a Medalha Coronel Fulgêncio da Polícia Militar de Minas Gerais. Acervo do Sr. Marcelo Tibúrcio.
Duas imagens do Pico do Itaguaré, na região do Túnel.
Seguindo adiante chegamos a simpática Passa Quatro, local de reunião de tropas federais em operação contra a sublevação de São Paulo.
Neste Hotel em frente a estação funcionava o Q.G. da Força Pública mineira.
Um belo final de tarde em Passa Quatro.
Ricardo Della Rosa é blogueiro, colecionador de antiguidades e pesquisador da história militar brasileira. Em seu canal do You Tube, Passado Presente, ele apresenta várias peças históricas, locais e personagens muito interessantes.