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"Se não têm pão, que comam brioches": a frase que Maria Antonieta nunca disse

Por History Channel Brasil em 16 de Outubro de 2020 às 13:55 HS
"Se não têm pão, que comam brioches": a frase que Maria Antonieta nunca disse-0

Em 16 de outubro de 1793, a rainha Maria Antonieta foi executada na guilhotina durante a Revolução Francesa. Uma das figuras mais emblemáticas do final da monarquia da França, ela entrou para a história como uma pessoa frívola que não se importava com a fome do povo. De acordo com uma história popular, ao receber a notícia de que os camponeses não tinham pão para comer, teria respondido: "se não têm pão, que comam brioches". 

A declaração insensível fez com que Maria Antonieta se transformasse em um símbolo odiado da monarquia decadente e serviu de combustível para a revolução que a faria (literalmente) perder a cabeça. Mas a rainha realmente disse essas palavras? De acordo com historiadores, essa frase não passa de fake news. 

Antonia Fraser, autora de uma biografia da rainha francesa, acredita que seria altamente improvável que Maria Antonieta dissesse algo do tipo. Segundo a escritora, a nobre era uma mulher inteligente que fazia doações generosas a instituições de caridade. Apesar de seu estilo de vida extravagante, ela teria mostrado sensibilidade com relação à população pobre da França.


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Além disso, a frase "se não têm pão, que comam brioches" já era conhecida muitos anos antes de 1789. Ela apareceu pela primeira vez, de uma forma um pouco diferente, atribuída à Maria Teresa, princesa espanhola que se casou com o rei Luís XIV, em 1660. Ela teria sugerido que os franceses comessem “la croûte de pâté” (ou a crosta do patê). 

Durante o século seguinte, a frase foi atribuída a vários outros membros da realeza do século XVIII, incluindo duas tias de Luís XVI. O filósofo Jean-Jacques Rousseau também incluiu a história do patê em suas “Confissões” em 1766, atribuindo a declaração a “uma grande princesa” (provavelmente Maria Teresa). Ou seja, quem quer que tenha dito aquelas palavras inesquecíveis, quase certamente não foi Maria Antonieta. Na época em que Rousseau escreveu a obra, ela tinha apenas 10 anos (faltavam três anos para ela se casar com o príncipe francês e oito para se tornar rainha).

Além da frase falsamente atribuída a ela, Maria Antonieta foi alvo de outras fake news. Por sua fama de desperdiçar dinheiro com roupas, cabeleireiros e outras atividades consideradas fúteis, ela foi apelidada de Madame Déficit, levando a culpa pela falência da França. Mas segundo os registros de contabilidade da época, as despesas da rainha não representavam sequer 1/6 das finanças do Estado, que foram quase todas consumidas em conflitos bélicos, como a Guerra dos Sete anos e a Guerra de Independência dos Estados Unidos.

Ao chegar ao palácio de Versalhes, Maria Antonieta também sofreu preconceitos devido a suas origens germânicas, já que por anos a França e o Sacro Império Romano-Germânico foram rivais. Antes de ela se casar com o futuro rei Luís XVI, as tias dele espalharam mentiras a seu respeito. Segundo os boatos difundidos por elas, Maria Antonieta seria uma espiã cuja principal missão seria enviar para a Áustria os segredos políticos da França.

Um panfleto que circulava às vésperas da Revolução Francesa também foi publicado com o objetivo de prejudicar a reputação da rainha. Intitulado “A Escandalosa Vida de Maria Antonieta”, o texto apresentava a rainha como uma adúltera que traía seu marido com homens e mulheres. O documento serviu para erodir ainda mais a imagem da monarquia, pois questionava a legitimidade dos herdeiros do trono e lançava dúvidas a respeito da virilidade do rei. 


Fonte: History e FRASER, Antonia. Maria Antonieta. Tradução de Maria Beatriz de Medina. 4ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2009.

Imagem: Élisabeth-Louise Vigée-Le Brun (1755–1842)/ Museu de História da França, via Wikimedia Commons