"Síndrome K": doença inventada por médicos italianos para salvar judeus dos nazistas
A Itália ocupada por nazistas não era um lugar seguro para judeus. Perseguidos, muitos deles foram enviados para campos de concentração. Para tentar salvá-los, um grupo de médicos resolveu inventar uma doença fictícia, a "Síndrome K".
Em outubro de 1943, um mês após se render aos Aliados, a Itália trocou de lado e declarou guerra à Alemanha. Mas uma parte do país continuou a ser dominada pelos nazistas. Nesse território foi instaurada a República Social Italiana, um estado-fantoche comandado pelo Terceiro Reich.
No mesmo mês, os nazistas começaram a perseguir sistematicamente a comunidade judaica de Roma. Nessa época, centenas de judeus foram deportados para Auschwitz. Em desespero, muitas famílias buscaram refúgio no hospital Fatebenefratelli, que ficava próximo ao gueto judeu.
Foi quando a equipe médica do hospital, liderada pelo professor Giovanni Borromeo e pelo dr. Vittorio Sacerdoti, teve uma ideia. Eles começaram a internar judeus na instituição, mesmo que eles estivessem saudáveis. Nos registros, eles eram identificados como pacientes que sofriam de uma doença fictícia chamada “il morbo di K” ou "Síndrome K".
A letra K foi escolhida como forma de zombar de duas figuras: Herbert Kappler, o chefe da polícia nazista responsável por perseguir os judeus, e Albert Kesselring, militar alemão que comandava a defesa da Itália contra os Aliados na Segunda Guerra. Ambos foram condenados por crimes de guerra após o fim do conflito.
A "Síndrome K" não era usada apenas como código para a equipe do hospital identificar os judeus refugiados. A "doença" também servia para assustar os nazistas. Os pacientes com a moléstia fictícia eram instruídos pelos médicos a tossir muito durante as inspeções dos alemães. "Os nazistas pensavam que tratava-se de câncer ou tuberculose e fugiam como coelhos", disse o dr. Sacerdoti em uma entrevista, em 2004.
Embora não se saiba ao certo quantos pessoas se salvaram devido à "Síndrome K", estima-se que centenas de judeus podem ter se beneficiado da estratégia criada pelos médicos. Atualmente, uma placa no hospital Fatebenefratelli lembra que o local serviu de resistência ao Holocausto.
Fonte: IFLScience
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