Vingadores judeus: o grupo de sobreviventes do Holocausto que caçou nazistas após a guerra
O grupo Nakam, integrado por judeus sobreviventes dos campos de concentração, jurou vingança pelos crimes cometidos contra eles durante a Segunda Guerra Mundial. O objetivo era claro: assassinar seis milhões de alemães, um por cada judeu assassinado. Para isso, eles planejavam envenenar as águas das principais cidades da Alemanha e matar com arsênico milhares de ex-líderes nazistas.
A organização era composta por quase 50 conspiradores, ex-membros da resistência judaica e guerrilheiros que lutaram contra os nazistas no gueto de Vilna, na Lituânia, e nas florestas próximas à cidade. Após a guerra, os guerrilheiros se reagruparam em Bucareste, na Romênia, e adotaram o nome de "Nakam" (que significa "vingança" em hebraico). O grupo era uma ramificação de outro, chamado Nokmim (ou "vingadores").
Seus membros acreditavam que os genocidas alemães não haviam sido castigados por seus crimes, já que, para o funcionamento desse grande mecanismo de extermínio, necessitava-se de milhares de pessoas: operários, vigilantes dos campos de concentração, administradores nos guetos, maquinistas de trens que transportavam pessoas aos campos. Em 1949, quatro anos após a derrota das tropas de Hitler, apenas 300 nazistas estavam presos. De uma lista de "procurados" que incluía 13 milhões de criminosos de guerra, somente 300 receberam penas significativas.
Para os integrantes do Nakam, todos os colaboradores eram culpados, e cada um deles deveria receber vingança. Eles então se dispuseram a rastrear e planejar a execução de seus torturadores, já que eles haviam visto seus familiares morrer, presenciaram a tentativa de destruição de sua identidade e foram até testemunhas de como seus carcereiros ficavam livres.
Várias de suas histórias foram reveladas no documentário de 2018 de Avi Merkado-Ettedgui, “The Holocaust Avengers”, no qual alguns de seus protagonistas se pronunciaram sobre suas ações. Em uma entrevista ao The Associate Press, em 2016, um dos membros do movimento, Joseph Harmatz, expressou claramente a motivação do grupo: “Matar alemães. Tantos quanto fosse possível”.
Não se sabe quantos nazistas foram mortos pelo Nakam. Um dos métodos de ação do grupo era implementar tribunais extrajudiciais. Um desses julgamentos aconteceu no Canadá. Lá, eles localizaram Alexander Laak, responsável pela morte de 100 mil judeus no campo de concentração de Jägala, na Estônia. Enquanto a esposa dele estava no cinema, os vingadores confrontaram o nazista, acusando-o pelos crimes. Após sentenciá-lo, o grupo fez com que Laak se enforcasse.
Em Nuremberg, na Alemanha, os vingadores judeus conseguiram se infiltrar num centro de detenção onde nazistas estavam presos. Um membro do grupo conseguiu envenenar 3 mil pães destinados aos prisioneiros. De acordo com o New York Times de 20 de abril de 1946, 900 deles ficaram "seriamente doentes" após terem ingerido arsênico. Não há notícias de quantos morreram.
O plano mais ousado do Nakam consistia em envenenar o abastecimento de água de cinco cidades: Munique, Berlim, Weimar, Nuremberg e Hamburgo. O responsável pela missão seria Abba Kovner, um dos líderes do grupo. Mas ele acabou sendo preso pela polícia militar britânica após ter sido denunciado. Na hora da prisão, ele levava o veneno em uma mochila. Acredita-se que líderes judeus ficaram sabendo do plano e resolveram denunciá-lo, pois consideravam que a iniciativa radical prejudicaria a causa judaica.
Fontes: La Nación e The Guardian
Imagens: Domínio Público, via Wikimedia Commons, e Shutterstock.com