Os tradutores da Bíblia que foram parar na fogueira durante a Idade Média
Durante a Idade Média a tradução da Bíblia foi desencorajada pela Igreja. Em 1199, o Papa Inocêncio III proibiu versões sem autorização das Escrituras. Nos anos seguintes, muitos dos que ousaram contrariar a ordem acabaram tragicamente na fogueira.
John Wycliffe, teólogo e famoso pensador inglês do século XIV, considerava a instituição eclesiástica absolutamente corrupta. Certo de que o papa buscava o benefício próprio e não o dos pobres, Wycliffe publicou uma série de folhetos no qual tratava o pontífice como “o anticristo, o orgulhoso sacerdote mundano de Roma e o mais maldito dos exploradores”. Em 1377, ele foi acusado de heresia e se viu obrigado a renunciar a seu cargo de professor do Balliol College, em Oxford.
Para que a Bíblia estivesse disponível a todos, especialmente aos mais pobres, Wycliffe a traduziu para o inglês e a editou com a ajuda de seus colaboradores, em 1382. No entanto, a fúria que despertou em Roma foi tanta que, assim que ele morreu de causas naturais, o papa ordenou que seus restos fossem exumados e queimados.
Jan Hus, um sacerdote tcheco, inspirou-se nos escritos de Wycliffe que circulavam pela Europa em 1400 para realizar uma campanha pela reforma administrativa e contra a corrupção da Igreja. Em 1416, publicou uma Bíblia traduzida ao idioma tcheco, e imediatamente foi acusado de heresia. Após morrer na fogueira, uma guerra civil foi iniciada na região de Boêmia.
Já o inglês William Tyndale foi assassinado por tentar traduzir clandestinamente a Bíblia do latim para o inglês. Acusado de heresia, ele foi queimado na fogueira em 1536. O mesmo aconteceu com o holandês Van Liesveldt, que chegou a ilustrar sua Bíblia traduzida com gravações em madeira que representavam Satanás vestido como monge católico, com pés de cabra e um rosário. Também foi acusado de heresia e queimado na fogueira.
Fonte: BBC
Imagens: Diebold Schilling, o Velho (1485) e Bernard Picard (1713), via Wikimedia Commons