A curiosa forma como o Natal era comemorado durante a Idade Média
No período medieval, as celebrações natalinas iam muito além do dia 25 de dezembro. Durante 12 dias seguidos, aldeias e cortes da Europa viviam um clima de excessos, diversão e tradições curiosas, com destaque para a coroação do irreverente “Rei da Desordem” na Noite de Reis. Essa longa temporada de festas começava logo após o rigoroso jejum do Advento, marcado por restrições alimentares que davam lugar a banquetes opulentos e muita bebida a partir da manhã de Natal.
"Festa dos Loucos"
O encerramento do Advento era celebrado com uma missa especial ao amanhecer do dia 25, abrindo espaço para a abundância. A preparação incluía desde a salmoura de carnes em novembro até a organização de refeições suntuosas. Nos campos, senhores feudais ofereciam folga de 12 dias e refeições festivas a seus trabalhadores. Enquanto isso, a realeza esbanjava luxo: em 1226, o rei Henrique III da Inglaterra encomendou dezenas de salmões, carnes exóticas e vinhos para a ceia de Natal. Na corte, o consumo de bebidas fermentadas era tão importante quanto o banquete em si, sendo comum entre camponeses e aristocratas.
Além da comida, o entretenimento era peça-chave do Natal medieval. Festas com máscaras, troca de papéis sociais e canções populares animavam as aldeias. Nas igrejas, a chamada “Festa dos Loucos” permitia aos membros do clero adotarem comportamentos extravagantes por um dia, numa inversão completa das normas litúrgicas. Esses rituais, que beiravam o cômico, tinham raízes tanto em tradições cristãs quanto em costumes pagãos.
A Noite de Reis, celebrada na véspera de 6 de janeiro, marcava o ápice das festividades. Um bolo de feijão era servido e quem encontrasse uma fatia com uma semente escondida era coroado o “Rei por uma noite”. Essa pessoa tinha o poder de comandar brincadeiras e reverter papéis sociais. A escolha desse “Rei da Desordem” simbolizava o espírito lúdico e transgressor que permeava todo o período natalino.
Por fim, os 12 dias de Natal tinham também um lado místico. As previsões do clima e do futuro, baseadas em sinais naturais durante esse período, faziam parte de práticas ligadas à religião. Acreditava-se que Deus enviava mensagens através do tempo, e a observação cuidadosa desses sinais poderia antecipar tanto boas colheitas quanto tempos difíceis para os poderosos. Assim, o Natal medieval misturava fé, superstição e celebração em uma época marcada por excessos e significados simbólicos.