Quem escreveu a Bíblia? Conheça as principais teorias sobre os autores das Escrituras
Traduzida em mais de 700 idiomas, a Bíblia é o livro mais lido do mundo. Mas, apesar da sua vasta influência no mundo judaico-cristão, suas origens ainda estão envoltas em mistério. Uma das principais dúvidas diz respeito a sua autoria: afinal, quem foram as pessoas que escreveram os diversos textos compilados nas Escrituras?
Antigo Testamento
Quanto ao Antigo Testamento, uma das primeiras teorias diz que um único autor escreveu seus cinco primeiros livros (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). Juntos, eles são conhecidos como Torá ("instrução" em hebraico) ou Pentateuco ("cinco pergaminhos" em grego). De acordo com essa hipótese, o único autor seria Moisés, o profeta hebreu que tirou os israelitas do cativeiro no Egito e os guiou através do Mar Vermelho em direção à Terra Prometida.
Quando o Iluminismo começou no século XVII, a maioria dos estudiosos religiosos questionava seriamente a ideia da autoria de Moisés. Esses primeiros cinco livros estavam cheios de material contraditório e repetitivo, e muitas vezes pareciam contar versões diferentes da história dos israelitas, mesmo dentro de uma única seção de texto. Além disso, como Moisés poderia ter escrito sobre a própria morte?
Devido a essas contradições, surgiu a teoria mais plausível de que o texto foi escrito por vários autores. Hoje em dia, a maioria dos estudiosos concorda que as histórias e leis contidas no Pentateuco foram comunicadas oralmente, por meio de prosa e poesia, ao longo de séculos. A partir de meados do século VII a.C., diversos grupos ou escolas de autores escreveram os textos em diferentes épocas. Em algum momento (provavelmente durante o século I a.C.), este material foi compilado na forma que conhecemos atualmente.
Dos três principais blocos que compreendem os cinco primeiros livros da Bíblia, acredita-se que o primeiro tenha sido escrito por um grupo de sacerdotes, ou autores sacerdotais, cujo trabalho os estudiosos designam como fonte “P” (ou Sacerdotal), pois em alemão Priester quer dizer sacerdote. Um segundo bloco é conhecido como fonte “D” ( Deuteronomista), significando o(s) autor(es) da grande maioria do Deuteronômio.
De acordo com alguns estudiosos, o terceiro bloco pode ser dividido em duas escolas diferentes e igualmente coerentes, nomeadas pela palavra que cada uma usa para Deus: Yahweh e Elohim. As histórias que usam o nome Elohim são classificadas como “E”, ou fonte Eloísta, enquanto as outras são chamadas de “J”, ou fonte Javista (de Jawhe, a tradução alemã de Yahweh).
Assim como o Pentateuco costumava ser atribuído a Moisés, os Salmos teriam sido obra do rei Davi, enquanto Juízes seria de autoria do profeta Samuel. Hoje em dia, é consenso que esses e os demais livros que constituem o Antigo Testamento foram escritos por diferentes grupos de religiosos.
Novo Testamento
Assim como o Antigo Testamento narra a história dos israelitas no milênio que antecedeu o nascimento de Jesus, o Novo Testamento registra a vida de Cristo, desde seu nascimento e ensinamentos até sua morte e posterior ressurreição, narrativa que forma a base fundamental do cristianismo.
Por volta de 70 d.C., cerca de quatro décadas após a crucificação de Jesus (segundo a Bíblia), surgiram quatro crônicas a respeito de sua passagem pela Terra. Esses textos, escritos anonimamente, se tornariam documentos centrais na fé cristã. Nomeados em homenagem aos apóstolos mais dedicados de Jesus (Mateus, Marcos, Lucas e João), os quatro Evangelhos canônicos eram tradicionalmente considerados relatos de testemunhas oculares da vida, morte e ressurreição de Cristo.
Mas, há algum tempo, em sua maioria os estudiosos concordam que os Evangelhos, assim como muitos dos livros do Novo Testamento, não foram realmente escritos pelas pessoas a quem são atribuídos. De fato, parece claro que as histórias que formam a base do cristianismo foram primeiramente comunicadas de forma oral e transmitidas de geração em geração, antes de serem coletadas e escritas.
O primeiro Evangelho a ser escrito pode ter sido Marcos, que então inspirou Mateus e Lucas (o de João é diferente dos outros). Uma outra hipótese diz que os três podem ter sido baseados em um livro mais antigo, agora perdido, conhecido pelos estudiosos como Q. Seja qual for o caso, as evidências sugerem que o livro Atos dos Apóstolos parece ter sido escrito ao mesmo tempo (no final do primeiro século d.C.) e pelo mesmo autor de Marcos.
Tradicionalmente, 13 dos 27 livros do Novo Testamento foram atribuídos ao apóstolo Paulo, que se converteu ao cristianismo depois que Jesus apareceu para ele na estrada para Damasco. Depois disso, ele escreveu uma série de cartas que ajudaram a espalhar a fé cristã por todo o mundo mediterrâneo. Mas os estudiosos atualmente concordam com a autenticidade de apenas sete das epístolas de Paulo. Os autores das epístolas posteriores podem ter sido seguidores dele, que usaram seu nome para dar autenticidade às obras.
Já o Livro do Apocalipse foi escrito por volta de 96 a.C. na Ásia Menor. O autor era provavelmente um cristão de Éfeso conhecido como "João, o Velho", que estava na ilha de Patmos. Há quem defenda que trata-se do mesmo João a quem um dos Evangelhos é atribuído, mas não há consenso sobre isso.