“Vale da Morte”: como Cubatão se tornou a cidade mais poluída do mundo nos anos 1980
Devido a sua localização privilegiada (a apenas 12 quilômetros do Porto de Santos e 100 quilômetros de São Paulo), Cubatão se tornou a “capital química” do Brasil a partir da década de 1950. O local abrigava mais de 30 fábricas que geraram riqueza, mas também trouxeram muitos problemas ambientais. Nos anos seguintes, o excesso de poluição levou a cidade a ficar conhecida como "Vale da Morte".
Cidade mais poluída do mundo
No final dos anos 1970, a emissão de componentes químicos tóxicos como monóxido de carbono, benzeno, óxidos de enxofre e nitrogênio e hidrocarbonetos liberados em Cubatão ultrapassava mil toneladas por dia. A ocorrência de chuva ácida também era frequente por lá. Na década seguinte, a Organização das Nações Unidas (ONU) chegou a apontar o local como "a cidade mais poluída do mundo".
Rodeada por montanhas, a cidade se transformou em uma verdadeira estufa de fumaças tóxicas. Na Vila Parisi, bairro residencial de baixa renda próximo a indústrias químicas, houve registros de crianças nascendo com graves malformações nos membros e no sistema nervoso. Pelo menos 37 nasceram mortas devido a problemas como a anencefalia.
Em 1984, uma tragédia relacionada à indústria química atingiu a Vila Socó, bairro carente de Cubatão. Um incêndio foi provocado pelo vazamento de 700 mil litros de gasolina de um duto da Petrobras que passava sob as palafitas da comunidade, onde moravam quase seis mil pessoas. De acordo com dados oficiais, 93 pessoas morreram, mas algumas entidades acreditam que o número pode ter sido cinco vezes maior.
No final da década, foram implementadas políticas públicas que ajudaram a reverter essa situação. O plano de controle ambiental incluía medições constantes das emissões de poluentes no ar e do controle da despoluição dos rios, gerenciamento feito pelo estado e investimento em maquinário moderno por parte das indústrias. Em 1989, a maior parte das fontes poluentes que já estavam controladas. Durante a Eco-92, Conferência sobre o Meio Ambiente da ONU, Cubatão foi reconhecida pela entidade como símbolo de recuperação ambiental.