6 heróis negros que deveriam ter mais reconhecimento no Brasil
Muitas personalidades negras tiveram papel fundamental em episódios importantes da história do Brasil. Apesar disso, nem todas têm o reconhecimento merecido. Confira abaixo as trajetórias de seis heróis que deveriam ser mais celebrados em nosso país:
Luiz Gama
Luiz Gama (1830-1882) foi um poeta, jornalista e advogado que se destacou na luta contra a escravidão no Brasil. Nascido em Salvador (BA), filho de uma africana livre e de um fidalgo português, foi vendido como escravo aos dez anos pelo próprio pai para saldar dívidas de jogo. Assim, foi levado para São Paulo onde, aos 17 anos, aprendeu a ler e escrever. Com seus estudos, conseguiu conquistar judicialmente a própria liberdade.
Atuando como advogado provisionado (profissional sem formação acadêmica que obtinha autorização para exercer a advocacia), Gama tornou-se o maior especialista jurídico na libertação da população escravizada. Durante sua carreira, ele libertou mais de 500 cativos, além de ter trabalhado na defesa de pessoas pobres, inclusive imigrantes europeus.
Antonieta de Barros
A filha de uma mulher que havia sido escravizada teve papel fundamental na luta pela igualdade racial e pelos direitos das mulheres no Brasil. Antonieta de Barros (1901-1952) foi a primeira mulher negra a ser eleita deputada no Brasil. Em 1935, ela conquistou nas urnas uma vaga para a Assembleia Legislativa de Santa Catarina.
Nascida em Florianópolis, Antonieta se alfabetizou convivendo com os estudantes na pensão que sua mãe abriu após ser alforriada. Depois de se formar como professora, fundou um curso voltado para a educação da população carente. Antonieta também trabalhou como jornalista, escrevendo sobre desmandos políticos, condição feminina e preconceito. Em 1934, na primeira vez em que as mulheres brasileiras puderam votar e se candidatar, filiou-se ao Partido Liberal Catarinense, elegendo-se deputada estadual, voltando a vencer as eleições para o cargo em 1947.
Cândido da Fonseca Galvão
Cândido da Fonseca Galvão (1845-1890), também conhecido como Dom Obá II D'África, foi um militar brasileiro. Filho de africanos alforriados, ele nasceu no sertão da Bahia. Em 1865, se juntou ao exército brasileiro como voluntário para lutar na Guerra do Paraguai, após o imperador prometer uma série de vantagens a quem se alistasse para o combate.
Seu pai, Bemvindo da Fonseca Galvão, era filho de Abiodum, o obá do Império de Oió, localizado na África ocidental. Cândido intitulava-se “príncipe dom Obá II”, referindo-se a seu pai como “príncipe dom Obá I”. Depois da guerra, fixou-se no Rio de Janeiro, tornando-se uma figura muito conhecida da sociedade carioca. Entre a população negra do Rio de Janeiro, era reverenciado especialmente por sua representatividade. Foi defensor da monarquia brasileira, atuou na campanha abolicionista e no combate ao racismo.
Tereza de Benguela
Tereza de Benguela foi uma mulher que viveu no século XVIII, liderando o Quilombo do Piolho, também conhecido como Quilombo do Quariterê, no Mato Grosso. Lá, ela era conhecida como “Rainha Tereza”, atuando como estrategista militar e dirigente política.
De acordo com documentos da época, ela assumiu a liderança do quilombo após a morte de seu marido, José Piolho. A partir daí, ela estabeleceu uma forma de governar que funcionava de forma semelhante a um parlamento, com deputados, um conselheiro, reuniões e uma sede. O Quilombo de Quariterê esteve em atividade entre 1730 e 1795. A liderança de Tereza vigorou até 1770, quando foi presa e morta pelo Estado.
Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus (1914-1977) foi uma escritora, compositora e poetisa brasileira, mais conhecida por seu livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, best-seller publicado em 1960. Nascida em uma família pobre de Minas Gerais, ela cursou apenas as primeiras séries do curso primário. Em 1937, se mudou para São Paulo, onde trabalhou como doméstica e catadora de papel.
Por muitos anos, ela manteve o hábito de escrever diários nos quais relatava o seu cotidiano como moradora da favela do Canindé. Em 1958, ao fazer uma reportagem no local, o jornalista Audálio Dantas conheceu Carolina e leu seus 35 diários. Dois anos depois, ele publicou um dos diários com o título de Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada. A obra vendeu mais de 100 mil exemplares em 40 países e foi traduzida em 13 línguas.
Francisco José do Nascimento
Francisco José do Nascimento (1839-1914), também conhecido como Dragão do Mar ou Chico da Matilde, foi um líder jangadeiro cearense que teve papel importante no movimento abolicionista. Em 1881, junto com seus colegas de ofício, ele se recusou a embarcar no porto de Fortaleza os escravizados que seriam enviados às províncias do sul do país. Seus próprios antepassados haviam sido feitos de escravos nas décadas anteriores.
O movimento dos jangadeiros em Fortaleza paralisou o mercado escravista do porto da cidade que, a partir de então, foi considerado fechado para o tráfico. O Ceará seria a primeira província brasileira a abolir a escravidão, em 1884, quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea. Na ocasião, Chico da Matilde embarcou com seus companheiros para o Rio de Janeiro, onde participou das comemorações pela abolição no Ceará e, junto com ele, levou embarcada uma de suas jangadas, batizada de "Liberdade".6 heróis negros que deveriam ter mais reconhecimento no Brasil