"'Andes Extremo' foi a maior e melhor experiência como escaladora que já tive na vida"
Por Branca Franco, escaladora que faz parte da série ANDES EXTREMO. Aqui, ela narra momentos vividos nas gravações do programa, que estreia 4 de maio, às 22:10, no HISTORY.
Um telefonema convite do Gabriel Tarso foi o primeiro passo pra entrar na seletiva de uma série documental no HISTORY. Eles estavam buscando uma mulher para compor o time de atletas que viajaria para o Peru para escalar montanhas de grandes altitudes. O bacana do projeto e o que me chamou mais atenção era o fato de que a experiência não se resumiria à escalada em si. A equipe também teria a possibilidade de documentar descobertas arqueológicas super importantes, fatos históricos desconhecidos e abordar temas relevantes ao meio ambiente.
Depois de um tempo, algumas entrevistas, vídeos e conversar, recebo uma ligação do Wiland Pinsdorf, diretor da série, anunciando que eu era a escolhida. Passada a euforia, alguns sentimentos de medo e preocupação começaram a surgir em minha mente. Eu não sou uma escaladora de Alta Montanha, uma escaladora que tem experiência com a neve, o gelo e a altitude. Como me preparar para escalar em 60 dias, várias montanhas, sendo seis delas bem perto ou acima de seis mil metros?
Em minha mente repetia várias vezes, como um mantra pra me acalmar, que a minha vasta e bem sucedida experiência na escalada em rocha me ajudaria a honrar essa escolha. Tive três meses pra me preparar. Muitas pessoas me perguntam como treinei, o que fiz, se tive algum tipo de assessoria em treinos. A real é que a minha agenda de trabalho estava lotada, não tinha tempo "livre" pra executar um treino com periodicidade. O que parecia um problema, foi a minha grande sorte.
Trabalho fazendo travessias e realizando atividades ao ar livre com crianças e adolescentes. Foi assim, subindo morros com cargueira nas costas, correndo no pique pega, jogando futebol, dançando nas matinês, fazendo abdominais e alguns exercícios de estabilidade nos momentos de folga que me preparei para o maior desafio da minha vida.
No dia primeiro de julho de 2022 embarcamos para o Peru. Eu, Gabriel e Wiland saímos do Brasil e o Edson saiu da Bolívia porque estava treinando por lá. Nos encontramos com o Edson em Arequipa, região sul do país. Nosso processo de aclimatação seria feito nos arredores da segunda maior cidade do Peru. Nosso ponto de apoio na Cidade Branca era um hotel no centro colonial que estava a 2.335m de altitude.
Apesar de já ter ido ao Peru três vezes não conhecia o sul e sua riqueza cultural, histórica e natural. Foi um grande presente ter a oportunidade de mesclar duas coisas que amo: escalar e conhecer novas culturas.
Nas três semanas em que estivemos na região sul do Peru pudemos escalar quatro montanhas: Mismi (5.597m), Pichu-Pichu (5.664m), Haulca Hualca (6.025m) e Coropuna (6.425m ). Nossa rotina era intensa, cansativa, mas nada monótona. Para cada montanha escalada um tema cultural ou histórico era abordado na série.
Foi assim que tivemos a chance de conhecer Juanita, um dos maiores achados arqueológicos do século XXI. Uma múmia de uma criança de 12 anos em perfeito estado de conservação. Nem nos meus maiores sonhos eu imaginava que teria esse tipo de experiência e ainda poderia compartilhar isso com milhares de pessoas.
Também tivemos a possibilidade de visitar uma cidade pré-incaica, pouquíssimo conhecida pela maioria das pessoas, que fica em frete ao Coropuna, maior vulcão do Peru. Se a gente tivesse em uma expedição "convencional" de escalada, nosso cotidiano seria subir uma montanha, descer para um lugar baixo, depois subir outra montanha e descer novamente. Expondo nossos corpos à grandes altitudes e depois baixando, conseguimos uma boa aclimatação. No entanto, nossa viagem era para além de só escalar montanhas. Que sorte a nossa!
No dia 22 de julho partimos para o Norte do Peru, mais especificamente para Huaraz, na Cordilheira Branca. Estava eufórica porque já havia visitado Huaraz três vezes antes e por esse motivo tinha uma relação íntima e muito amorosa com o lugar e os amigos que fiz por lá.
A gente tinha passado por situações bem extremas na primeira parte da viagem. Para além das dificuldades encontradas nas montanhas e do nosso cansaço físico e metal, a covid chegou com tudo e abalou a estrutura da nossa equipe. Era como se Huaraz e essa segunda parte do projeto viessem renovar nossa energias e mudar nossa sorte.
Ficamos 39 dias na região norte do Peru e diferente do Sul, onde nossos deslocamentos pras montanhas eram bem extensos, na Cordilheira Branca, a logística foi mais fácil e ágil. Pudemos escalar as seguintes montanhas: Yanapaccha (5.460m), Alpamayo (5.947m), Chopicalqui (6.345m) e Huascarán (6.768m).
Dois momentos foram bem marcantes pra mim na segunda etapa. Um foi quando entrevistamos uma glacióloga que nos mostrou a real situação da deglaciação das geleiras e nevados. É muito triste ver como nós estamos tratando o meio ambiente. Foi dolorido, mas importante pra levar informação às pessoas para que a gente pense em formas diferentes de existir, consumir, reutilizar e reciclar.
O outro foi ter escalado o Chopicalqui com a Malu, uma experiente montanhista peruana, aspirante à guia de montanha. Ter uma mulher ao meu lado foi um conforto pra mim, trouxe acolhimento, coragem, força e determinação.
A gente tem tantas histórias pra contar pra vocês que eu poderia passar dias escrevendo um diário da maior e melhor experiência como escaladora e montanhista que já tive na vida. Mas eu vou deixar esse gostinho de quero mais pra vocês assistirem tudo na íntegra conosco no HISTORY.