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Bibliopegia Antropodérmica: encadernar livros com pele humana, uma macabra prática

Recentemente, a Universidade Harvard retirou de sua biblioteca uma dessas edições, o que expôs esse costume mórbido
Por History Channel Brasil em 14 de Abril de 2024 às 13:08 HS
Bibliopegia Antropodérmica: encadernar livros com pele humana, uma macabra prática-0

A Universidade Harvard, nos Estados Unidos, anunciou que irá remover de sua biblioteca um livro do século XIX intitulado Des Destinées de l'Ame ("Destinos da Alma", em tradução livre), encadernado com pele humana. Esta peculiar edição pertenceu a Ludovic Bouland, um médico que usou a pele retirada das costas de uma paciente morta no hospital onde ele trabalhava para encadernar o volume. 

"Natureza eticamente problemática"

Bouland considerava que Des destinées de l'ame merecia esse tratamento especial. Na parte interna da capa do livro, ele escreveu à mão: "Se olharmos com atenção, podemos distinguir facilmente os poros da pele. Um livro sobre a alma humana merece ser vestido com pele humana".

Livro encadernado com pele humana
Outro livro encadernado com pele humana por Ludovic Bouland (Imagem: Wellcome Library, via Wikmedia Commons (CC BY 4.0 DEED))

A bibliotecária americana Megan Rosenbloom fez uma extensa pesquisa sobre essa prática, chamada de bibliopegia antropodérmica. Junto com sua equipe, a especialista identificou cerca de 50 livros encadernados com pele humana em coleções públicas e privadas. O resultado de seus levantamentos foi publicado em 2020 no livro Dark Archives ("Arquivos Sombrios", em tradução livre).

"Os livros encadernados em pele humana — em sua maioria fabricados por médicos bibliófilos do século XIX — são os únicos livros controversos não pelas ideias que contêm, mas sim pela constituição física do próprio objeto", escreveu Rosenbloom. Segundo ela, naquela época a pele de uma pessoa morta havia se tornado um subproduto do processo de dissecação, “como um pedaço de couro de animal após o abate de um açougueiro”. A prática da encadernação com esse material tornava mais preciosos os livros pessoais de um médico.

Os representantes da Universidade Harvard disseram que irão retirar de sua biblioteca o livro encadernado com essa técnica devido à "natureza eticamente problemática" da prática. A decisão foi tomada após "estudo cuidadoso, envolvimento das partes interessadas e consideração". A instituição trabalhará com as autoridades para "determinar um destino final respeitoso desses restos humanos".

Fontes
Infobae e The Guardian
Imagens
istock