Confissões do #Infiltrado: O Mundo dos Capitalistas
Para mergulhar no mundo encantado dos capitalistas de sucesso, eu teria de fazer como o João Gordo, que, depois de gravar algumas músicas de heavy metal, foi acusado de trair o movimento punk onde por anos circularam os seus Ratos de Porão.
o capitalista é negligente justo com aquilo que há de mais valioso: o seu tempo. Este você não economiza, não guarda provisões para o futuro, não volta.Fred Melo Paiva, O InfiltradoEu também fui punk em minha já longínqua juventude. Escutei muito Ratos de Porão, para desespero da minha mãe. Em todo o mundo, punks são anarquistas. No Brasil, a maioria, influenciada pelos movimentos grevistas do ABC no final dos anos 1970, é de esquerda. Eu me encontrava – e me encontro – mais ou menos por aí: à esquerda do PT, à direita do PSTU.
Para um tipo como eu não é fácil “se vender ao capital”. Mas, se eu queria realmente conhecer o universo dos capitalistas, não havia maneira mais eficaz do que me transformar em um deles. E foi assim que eu fiz. Ou tentei fazer.
Como não vivo de renda nem sou herdeiro, optei pelo Caminho Sílvio Santos – o Caminho de Santiago daqueles peregrinos que desejam encontrar a fortuna. Ou seja, comecei por baixo, como fez o dono do SBT. E fui galgando, claudicante, os meus muitos degraus.
Se fui bem sucedido ou não, o caro amigo verá neste episódio de O Infiltrado. Mais importante que isso, porém, foi perceber que o capitalista é negligente justo com aquilo que há de mais valioso: o seu tempo. Este você não economiza, não guarda provisões para o futuro, não volta. E é exatamente o que vendemos barato em troca do papel moeda.
Enquanto você trabalha, lidera, lucra e derruba seus concorrentes, o seu filho cresce, o fim de tarde na praia rareia, o ócio lhe incomoda, a santa vagabundagem desaparece. E o mundo, transformado num grande mercado, vê sumirem suas florestas e rios. Até que, um dia, falta água na torneira.