Confissões do #Infiltrado: O Mundo dos Papais Noeis
Desde a sua criação, o Infiltrado tem lidado com assuntos relevantes, como o crescimento dos evangélicos no Brasil, a segurança privada, a morte e os desafios do capitalismo (este último, um episódio ainda inédito). Nesse sentido, o tema do Papai Noel me pareceu um tanto idiota para as nossas pretensões de botar o público para pensar.
Para investigar o consumismo, virar um Papai Noel poderia ser realmente de grande serventia. E foi isso a que me propus fazer, mesmo sabendo das dificuldades de vestir-se de esquimó num Rio de Janeiro à beira dos 50 graus.Fred Melo Paiva, O Infiltrado
Bastaram alguns dias de reflexão para que me desse conta do óbvio: Papai Noel é o mais assíduo e eficaz garoto-propaganda do mundo. Sob a batuta do Velho Batuta, o ser humano transforma-se numa máquina de consumo que a cada dezembro faz girar economias, aumentar o número de empregos, criar demandas antes inexistentes e, em última instância, colaborar para a emissão de gases poluentes que um dia ainda vai nos sufocar.
Para investigar o consumismo, virar um Papai Noel poderia ser realmente de grande serventia. E foi isso a que me propus fazer, mesmo sabendo das dificuldades de vestir-se de esquimó num Rio de Janeiro à beira dos 50 graus.
Com essa beca de escalador do Everest – ou quase isso, já que dei um jeito de tropicalizar minhas vestimentas –, fui confrontado com o oito e o oitenta.
Por um lado, busquei compreender o verdadeiro espírito do Natal, e me emocionei pra valer com suas possibilidades. Por outro, pude assistir in loco uma reunião de compradores compulsivos reunidos numa espécie de Alcóolicos Anônimos. Em uma e outra situação, Papai Noel está lá a nos espreitar pela chaminé.
Depois dessa minha experiência, eu, que já fui punk, escutarei com outros ouvidos “Papai Noel velho batuta”, o clássico natalino dos Garotos Podres cujo refrão dizia: “Presenteia os ricos, cospe nos pobres”. É isso. Mas é bem mais do que isso.