Hollywood promovia casamentos “fake” para manter sexualidade de astros em segredo
Durante a época de ouro de Hollywood, atores LGBT eram respeitados somente nos palcos, e não na vida real. De acordo com Stephen Tropiano, autor de “The Prime Time Closet: A History of Gays and Lesbians on TV” ("Horário Nobre do Armário: a História de Gays e Lésbicas na TV", em tradução livre), atores e atrizes gays, lésbicas ou bissexuais eram obrigados a se casar com alguém do sexo oposto, para que sua sexualidade não fosse conhecida pelo público.
Os grandes estúdios possuíam “cláusulas morais” que os davam o direito de demitir atores que “perdessem o respeito do público”. Comportamentos não aceitos variavam de atividades criminais a condutas consideradas indecentes pela comunidade.
Um dos primeiros casamentos “fake” aconteceu em 1919, entre o ator Rudolph Valentino e a atriz Jean Acker, que muitos consideravam lésbica. Na noite do casamento do casal, Acker aparentemente se arrependeu e trancou o marido do lado de fora do quarto do hotel. Logo depois, eles se divorciaram. Valentino se casou mais tarde com Natacha Rambova, em 1923, em uma época em que seus papéis estavam ficando menos tipicamente masculinos, como no filme “Monsieur Beaucaire”, em 1924. Eles se separaram em 1925.
Uma das fontes de Tropiano para descobrir esses casamentos foi o livro de memórias do cafetão da época Scotty Bowers, “Full Service: My Adventures in Hollywood and the Secret Sex Lives of the Stars” ("Serviço Completo: Minhas Aventuras em Hollywood e a Vida Sexual Secreta das Estrelas", em tradução livre). Nele, Bowers detalha encontros sexuais gays e héteros que ele mesmo arranjou ou até participou, a partif de 1946.
Ele conta que se envolveu sexualmente com o ator Cary Grant e o colega com o qual dividia a casa, Randolph Scott, por mais de uma década. Na época, Grant passou por cinco casamentos com mulheres. Mais tarde a filha de Grant processaria o autor.
Entre os casamentos fake mais especulados, está o do ator Rock Hudson com sua secretária Phyllis Gates. Eles se casaram em 1955 e se separaram dois anos depois, após rumores sobre sua sexualidade e infidelidade. Hudson morreu de AIDS em 1985.
No entanto, muitos atores gays tornaram sua homossexualidade pública, apesar dos riscos. Em 1930, o ator William Haines se recusou a esconder seu relacionamento com seu parceiro. Haines foi contratado pela MGM, mesmo estando casado com um ex-marinheiro chamado Jimmy Shields. Mas tempos depois, a MGM o deu um ultimato, segundo Bowers, para que ele se separasse do parceiro e se casasse com uma mulher. Haines escolheu o parceiro, abandonou a carreira de ator e criou com ele um negócio de sucesso de design de interiores. Hoje, ele é considerado uma das primeiras estrelas abertamente gays de Hollywood.
A partir das décadas de 1960 e 1970, esses casamentos arranjados começaram a diminuir, com o surgimento do movimento gay. Embora a representação gay nas telas ainda fosse escassa, a sexualidade dos atores não era mais ditada pelos estúdios.
Fonte: History.com
Imagem: Montagem com fotos de William Haines, Rock Hudson e Rudolph Valentino, Domínio Público, via Wikimedia Commons