Livro que revela suposta identidade do delator de Anne Frank tem a publicação suspensa
A revelação da suposta identidade do delator de Anne Frank continua a causar polêmica. Agora, o livro que apontava um tabelião judeu chamado Arnold van den Bergh como o homem que entregou a adolescente aos nazista teve sua impressão suspensa na Holanda. A decisão é da própria editora que publicou a obra.
O livro, intitulado The Betrayal of Anne Frank ("A Traição de Anne Frank", em tradução livre), foi escrito por Rosemary Sullivan. Baseada em uma investigação liderada por Vince Pankoke, ex-agente do FBI, a obra defende que van den Bergh entregou a garota e os parentes dela aos nazistas para salvar a própria família. Mas essa tese foi seriamente questionada por historiadores especialistas no caso. "A afirmação dos investigadores de que eles têm 85% de certeza (a respeito da identidade) é exagerada e estranha, na melhor das hipóteses”, disse Houwink ten Cate, pesquisador do Instituto Holandês de Documentação de Guerra.
Em um comunicado, os diretores da editora holandesa Ambo Anthos pediram desculpas e disseram que deveriam ter adotado uma postura mais crítica em relação ao conteúdo da obra. “Oferecemos nossas sinceras desculpas a todos que possam ter se sentido ofendidos pelo livro”. A impressão da próxima tiragem foi suspensa até segunda ordem.
Van den Bergh fez parte do Conselho Judaico de Amsterdã, um órgão implantado à força pelos nazistas para impor sua política segregacionista em bairros judeus durante a ocupação alemã. A entidade foi dissolvida em 1943, e seus membros foram enviados para campos de concentração. Mas os investigadores descobriram que Van den Bergh e sua filha escaparam desse destino e continuaram a viver normalmente na cidade. O livro diz ainda que Otto Frank, pai de Anne, teria recebido um bilhete revelando que o tabelião era o delator.
Mas, para Houwink ten Cate e outros historiadores, o Conselho Judaico de Amsterdã não teria acesso a listas de endereços dos esconderijos de judeus. “Parece implausível que as pessoas forneceriam informações sobre seus esconderijos, ou de suas famílias, ao Conselho Judaico, já que seus membros seguiam abertamente uma política de cooperação com os alemães”, disse Laurien Vastenhout, pesquisadora e professora do Instituto Nacional de Estudos sobre Guerra, Holocausto e Genocídio.
Os pesquisadores, que trabalharam seis anos na investigação do por trás do livro, não ficaram felizes com a suspensão da publicação da obra. Pieter van Twisk, que fez parte da equipe de investigação, disse que as alegações feitas no livro foram devidamente pesquisadas e que ele ficou perplexo com a declaração da editora.