Revelação da suposta identidade do delator de Anne Frank é contestada por historiadores
A revelação sobre a suposta identidade do homem que entregou Anne Frank aos nazistas está causando polêmica. No início da semana, foi divulgado que um grupo de investigadores havia descoberto que o delator seria um tabelião judeu chamado Arnold van den Bergh. Mas alguns historiadores não acreditam que isso seja verdade.
Quem entregou Anne Frank?
Liderada por Vince Pankoke, ex-agente do FBI, a investigação que apontou van den Bergh como o responsável pela delação é o tema central de um novo livro. Intitulada The Betrayal of Anne Frank ("A Traição de Anne Frank", em tradução livre), a obra foi escrita por Rosemary Sullivan. O livro diz que o suspeito entregou a garota e os parentes dela aos nazistas para salvar a própria família.
Van den Bergh fez parte do Conselho Judaico de Amsterdã, um órgão implantado à força pelos nazistas para impor sua política segregacionista em bairros judeus durante a ocupação alemã. A entidade foi dissolvida em 1943, e seus membros foram enviados para campos de concentração. Mas os investigadores descobriram que Van den Bergh e sua filha escaparam desse destino e continuaram a viver normalmente na cidade. O livro diz ainda que Otto Frank, pai de Anne, teria recebido um bilhete revelando que o tabelião era o delator.
Pankoke afirmou que Van den Bergh foi colocado em uma situação difícil pelos nazistas e teve que entregar os Frank para que ele e sua própria família permanecessem em segurança. Mas especialistas como Houwink ten Cate, pesquisador do Instituto Holandês de Documentação de Guerra, não estão convencidos disso. Segundo ele, o Conselho Judaico de Amsterdã não teria acesso a listas de endereços dos esconderijos de judeus.
“Os pesquisadores não conseguem explicar exatamente como Van den Bergh viu essas supostas listas e se o endereço da família Frank estava lá”, disse ten Cate. “Então, há de fato muitas pontas soltas. A afirmação dos investigadores de que eles têm 85% de certeza (a respeito da identidade) é exagerada e estranha, na melhor das hipóteses”, completou.
Outros historiadores holandeses entrevistados pelo jornal The Times of Israel também criticaram o novo livro. “Parece implausível que as pessoas forneceriam informações sobre seus esconderijos, ou de suas famílias, ao Conselho Judaico, já que seus membros seguiam abertamente uma política de cooperação com os alemães”, disse Laurien Vastenhout, pesquisadora e professora do Instituto Nacional de Estudos sobre Guerra, Holocausto e Genocídio.