Os dias mais sombrios da Terra: 18 meses sem Sol na Idade Média
Por volta do ano 536 d.C., no início da Idade Média, começou um período misterioso de escuridão que durou pelo menos 18 meses. Durante essa época, em muitas partes da Europa e Ásia, o Sol brilhava apenas por 4 ou 5 horas diárias, com uma intensidade mal comparável à da lua. Os historiadores chineses falam de um eclipse perpétuo, enquanto na Europa muitos acreditavam que o mundo estava chegando ao fim.
Graves consequências
Nesse período, a Terra ficou coberta por uma espécie de camada na atmosfera que impedia a luz do Sol de penetrar normalmente, resultando em graves consequências para o planeta, causando fome devido às más colheitas. Pesquisas recentes finalmente revelaram as causas do fenômeno.
Os cientistas Dallas Abbott e John Barron analisaram a química da água de um núcleo de gelo extraído da Groenlândia e descobriram dezenas de fósseis de espécies microscópicas típicas de águas quentes tropicais. Os especialistas acreditam que uma série de erupções vulcânicas submarinas ocorridas perto da linha do Equador elevaram sedimentos carregados de cálcio e criaturas marinhas microscópicas, que permaneceram na atmosfera e jogaram a Terra nesse longo período de escuridão.
Textos antigos relataram o fenômeno. O historiador bizantino Procópio escreveu que “o Sol emitiu sua luz sem brilho, como a lua, durante todo este ano”. Ele também escreveu que parecia que o Sol estava constantemente em eclipse, e que, durante esse tempo, “os homens não estavam livres da guerra, nem da peste, nem de qualquer outra coisa que levasse à morte”.
Ao analisar amostras de gelo do glaciar Colle Gnifetti, nos Alpes suíços, outro estudo conseguiu identificar poluentes atmosféricos depositados ao longo dos últimos dois mil anos. Substâncias encontradas no gelo pela equipe de pesquisadores liderada por Christopher Loveluck, da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, fornecem evidências de que a erupção ocorreu na Islândia.
Os efeitos da erupção de 536 foram agravados por novas erupções em 540 e 547. Segundo os pesquisadores, demorou muito tempo para o Hemisfério Norte se recuperar. Esse período de frio e fome causou estagnação econômica na Europa que se intensificou em 541, quando eclodiu a primeira pandemia de peste bubônica, que matou parte significativa da população. A região só começou a se recuperar dessas tragédias por volta do ano 575.