Por que a frase "o trabalho liberta" causa tanta indignação?
"A viagem levou uns vinte minutos. O caminhão parou; via-se um grande portão e, em cima do portão, uma frase bem iluminada (cuja lembrança ainda hoje me atormenta nos sonhos): ARBEIT MACHT FREI - o trabalho liberta". Assim, o escritor judeu italiano Primo Levi descreve sua chegada em Auschwitz no livro de memórias É Isto um Homem?, uma das obras mais pungentes sobre os horrores do Holocausto. A frase infame que decorava as entradas de diversos campos de concentração se tornou um símbolo da crueldade nazista.
Originalmente, a frase era o título de um romance do pastor e escritor Lorenz Diefenbach (1806-1883), associado ao movimento nacionalista alemão do século XIX. A expressão foi adotada em 1928 pelo governo da República de Weimar como um slogan que exaltava um programa de grandes obras públicas que tinha como objetivo acabar com o desemprego. O uso da frase continuou depois que os nazistas tomaram o poder na Alemanha, em 1933.
O uso do slogan foi implementado no campo de concentração de Dachau pelo oficial da SS Theodor Eicke e depois copiado por Rudolf Höss, que comandava o campo de Auschwitz. O letreiro sobre o portão de Auschwitz foi montado pelos próprios prisioneiros. Em protesto contra o slogan, eles viraram a letra "B" de cabeça para baixo.
Campo de concentração de Dachau
Nos campos de concentração, a frase "O trabalho liberta" transformou-se em símbolo da estratégia nazista para enganar e zombar de suas vítimas. Os prisioneiros chegavam aos campos de concentração com a falsa sensação de que eram levados para fazerem trabalhos forçados, mas muitos acabavam executados. Além de Dachau e Auschwitz, o slogan também foi usado em outros campos, como Gross-Rosen, KZ Sachsenhausen e Theresienstadt. Ao todo, cerca de 6 milhões de judeus foram mortos durante o Holocausto.
Em 2009, a placa com a inscrição "O trabalho liberta" foi roubada de Auschwitz por neonazistas e recuperada alguns dias depois, quebrada em três partes. A placa original foi restaurada e atualmente está guardada no museu de Auschwitz. Uma réplica foi colocada em seu lugar, na entrada do antigo campo. Em 2014, a placa de Dachau também foi roubada. A peça foi encontrada quase um mês depois.
Campo de concentração de Theresienstadt
Fontes: Deutsche Welle, The Guardian e Escape2Poland
Imagens: Lucky Team Studio/Shutterstock.com e Shutterstock.com