Por que José Bonifácio é considerado o Patriarca da Independência do Brasil?

José Bonifácio de Andrada e Silva é um dos personagens mais fascinantes da história do Brasil. Sua relação com D. Pedro I foi conturbada: inicialmente era aliado, depois virou opositor e, por fim, virou tutor de seus filhos. Sua influência sobre o imperador durante o processo de separação de Portugal era tanta que ele se celebrizou como o "Patriarca da Independência".

Quem foi José Bonifácio

Brasileiro de família rica, nascido em 1763 na cidade de Santos, José Bonifácio cruzou o oceano aos 20 anos de idade para estudar Ciências Naturais e Direito em Coimbra, adquirindo considerável reputação como professor universitário. Em 1790, ele assumiu uma missão em mineralogia patrocinada pelo governo português, em que precisava viajar por vários países europeus. Dez anos depois, quando retornou a Portugal, ele esperava reconhecimento e altos cargos, o que acabou não acontecendo.

Apenas depois de retornar ao Brasil é que José Bonifácio alcançou a notoriedade. Em 1819, já com 56 anos de idade, ele voltou para São Paulo, onde começou a ganhar influência e poder. No ano seguinte, eclodiu uma revolução no Porto, em Portugal. O governo absolutista português ruiu e as cortes gerais passaram a mandar no reino.

Dom João VI, que estava desde 1808 no Brasil, foi obrigado pelas cortes a voltar para Lisboa. Ao partir do Rio de Janeiro, deixou o filho Dom Pedro como príncipe regente. Mas as cortes estavam  insatisfeitas: tentaram limitar o poder de Dom Pedro e exigiram o retorno do herdeiro do trono para Lisboa.

Nessa época, José Bonifácio já havia virado um político poderoso em São Paulo, ocupando o cargo de presidente da Junta Governativa da Província. Posteriormente, tornou- se assessor e ministro de D. Pedro, juntamente com seu irmão Martim Francisco. Nessa posição, ele aconselhou Dom Pedro a ficar no Brasil e a declarar a independência de Portugal, em 1822.

José Bonifácio também teve atuação destacada no processo constitucional após a declaração de Independência. Nas eleições para a Constituinte, ele conseguiu fazer três dos seis representantes paulistas, colocando na liderança do grupo seu outro irmão Antonio Carlos. Atenuou as divergências políticas e ideológicas entre o imperador e a Assembleia Constituinte, onde representava a corrente mais conservadora. Ele defendia um estado extremamente centralizado e a limitação do direito de voto, em oposição aos liberais radicais, que exigiam uma constituição liberal, a limitação dos poderes de D. Pedro e a maior autonomia das províncias.

Mas a união dos Andradas com D. Pedro foi de curta duração. O autoritarismo de José Bonifácio gerou severas críticas por parte da oposição e a perda de seu prestígio frente ao imperador. Em junho de 1823, José Bonifácio foi frontalmente contrariado pelo monarca que assinou um decreto anistiando revoltosos inimigos dos Andradas. No mês seguinte, José Bonifácio e Martim Francisco demitiram-se, enquanto Antonio Carlos se destacava como principal articulador do projeto constitucional na Assembleia Constituinte, mais tarde dissolvida pelo imperador.

Na oposição, os Andradas passaram a combater ferozmente o governo de D. Pedro não somente na Assembleia, mas sobretudo no Tamoio, jornal que fundaram em agosto de 1823. Naquele mesmo ano, com a dissolução da Constituinte, José Bonifácio, seus irmãos e alguns partidários foram presos e deportados para Europa. 

Em 1829, foi permitido a José Bonifácio retornar ao Brasil. Nesse período, reaproximou-se de D. Pedro I que, após abdicar ao trono, indicou-o como tutor de seus filhos menores, incluindo o futuro imperador D. Pedro II. Suspeito de participar da conspiração que pretendia restaurar D. Pedro I ao poder, Bonifácio foi acusado de crime político e preso em 1833, sendo julgado e absolvido por unanimidade. Em seus últimos dias de vida mudou-se para cidade de Niterói, onde morreu em 1838.