Por que o coração de D. Pedro I ficou em Portugal enquanto seu corpo está no Brasil?

Emprestado por Portugal, o coração de D Pedro I chegou ao Brasil para as comemorações do bicentenário da Independência. Mas, afinal, por que o órgão é mantido preservado na cidade do Porto, enquanto o corpo do imperador está sepultado no nosso país? O motivo está na guerra civil travada entre ele e seu irmão, D. Miguel.

Guerra Civil Portuguesa

Após proclamar a Independência, em 1822, D. Pedro I deixou de ser de príncipe regente  e foi coroado imperador do Brasil. Após 9 anos no poder, ele abdicou ao trono em favor de seu filho, D. Pedro II, e retornou a Portugal. Lá, ele enfrentou seu irmão em uma guerra civil pela disputa do trono português. 

Quando Dom João VI morreu, Dom Pedro I assumiu o trono português (como Pedro IV), para pouco tempo depois abdicar em favor da filha, Maria da Glória. Na época, a menina tinha sete anos incompletos e já estava prometida em casamento ao tio Dom Miguel. Ele, no entanto, tomou a coroa da sobrinha, levando os dois irmãos ao conflito final na Guerra Civil Portuguesa, em 1834.

Dom Pedro saiu vitorioso do conflito e garantiu a coroa para a filha, que se tornou a rainha Maria II de Portugal. Mas o primeiro imperador do Brasil não teve muito tempo para comemorar a vitória: o monarca morreu de tuberculose em 1834. Ao morrer, ele deixou um testamento no qual expressava o desejo de que seu coração ficasse na cidade do Porto.

Sua relação de fidelidade com o Porto foi construída durante os 13 meses em que viveu no local, em meio às batalhas da Guerra Civil Portuguesa. Em reconhecimento à bravura dos habitantes da cidade, ele quis deixar um pedaço de si mesmo por lá. Assim, seu coração está armazenado há 185 anos na Igreja da Lapa, guardado em um vaso de prata que fica trancado em uma espécie de cofre.

Já o corpo de D. Pedro I havia sido inicialmente sepultado no Panteão da Dinastia de Bragança, em Lisboa, mas foi transferido para o Brasil em 1972 como parte da celebração de 150 anos de Independência. Seus restos mortais repousam na cripta do Monumento à Independência, em São Paulo.