Como a arquitetura do Pentágono salvou vidas no fatídico 11 de setembro
Às 9h47 da manhã de 11 de setembro de 2001, um funcionário aposentado do Pentágono e especialista em comunicação da Força Aérea estava no trânsito a oeste do Pentágono quando um avião passou tão perto que encostou na antena de rádio do carro atrás dele.
O avião, o voo 77 da American Airlines, que estava sob o controle de cinco sequestradores, atravessou três postes de luz no estacionamento do Pentágono antes de bater no primeiro andar do prédio e explodir em uma bola de fogo, matando instantaneamente 125 pessoas dentro do Pentágono e todos os 64 passageiros a bordo, incluindo os sequestradores.
Embora o ato tenha sido terrível e todas as mortes devastadoras, analistas revelaram que o número de mortos poderia ter sido muito maior, não fosse por decisões de engenharia tomadas 60 anos antes.
Imagem: Tech. Sgt. Cedric H. Rudisill/Department of Defense/Getty Images, via History.com
A construção do Pentágono começou, ironicamente, em 11 de setembro de 1941. Os Estados Unidos ainda não haviam entrado na Segunda Guerra Mundial, e o Presidente Franklin D. Roosevelt sabia que precisava de uma base para operações militares perto da capital da nação. Por conta da guerra, o Pentágono foi construído em tempo recorde – apenas 16 meses - por 15 mil trabalhadores.
O aço estava sendo racionado devido ao conflito, então o Pentágono foi construído quase que inteiramente de concreto armado, incluindo 41 mil estacas e rampas de concreto, em vez de escadas, que conectam os cinco andares do edifício. Concluído em 1943, o Pentágono continua sendo o maior prédio de escritórios do mundo, com cerca de 600 mil metros quadrados e 26 mil pessoas trabalhando em seu interior.
Quando o Pentágono foi construído, ninguém sabia que o prédio viraria um monumento icônico da força militar dos Estados Unidos – ou um alvo. Na verdade, os arquitetos achavam que ele seria abandonado após a guerra e transformado em um enorme depósito de registros. Por sorte, a previsão estava errada.
Imagem: Bill Vaughan/Sygma/Corbis, via History.com
Devido à possibilidade de o Pentágono precisar armazenar uma grande quantidade de registros em longo prazo, o Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos construiu um prédio excessivamente robusto e com redundâncias estruturais. Isso acabaria salvando potencialmente milhares de vidas em 11 de setembro.
Donald Dusenberry é um engenheiro estrutural e coautor de um relatório histórico da Sociedade Americana de Engenheiros Civis sobre os danos sofridos pelo Pentágono em 11 de setembro. Dusenberry estava no Marco Zero, em Nova York, apenas alguns dias depois da queda das Torres Gêmeas, e visitou o local do acidente do Pentágono algumas semanas depois.
O que ele e seus colegas descobriram depois de documentar e analisar cuidadosamente os danos infligidos ao Pentágono foi que, apesar de 26 colunas de cimento do primeiro andar terem sido completamente destruídas e 15 outras gravemente danificadas pelo acidente, os andares superiores do Pentágono não entraram imediatamente em colapso. Foram necessários 30 minutos para que uma parte do prédio diretamente acima do local do acidente desabasse, dando tempo mais do que suficiente para os sobreviventes escaparem.
Incrivelmente, nenhum trabalhador do Pentágono foi morto durante o colapso parcial do segundo ao quinto andar. É uma boa notícia, comparada ao destino trágico de milhares de pessoas presas no World Trade Center que não conseguiram escapar antes das torres desabarem.
Estima-se que 800 pessoas estavam trabalhando no local onde o impacto ocorreu na manhã de 11 de setembro, o que é muito menos do que o normal. Em um incrível golpe de sorte, o local havia passado por uma grande reforma recente e apenas uma parte dos trabalhadores havia voltado aos escritórios. Se o avião tivesse atingido qualquer outra seção do edifício naquele dia, poderia haver até 4.500 funcionários do Pentágono na rota do voo.
É quase impossível imaginar a força com que o voo 77 atingiu o Pentágono. O Boeing 757 pesava cerca de 82,4 toneladas e estava viajando a velocidades superiores a 850 km/h, de acordo com dados da caixa-preta.
O impacto ao edifício foi causado pelas reservas de combustível do avião nas asas e na fuselagem. O voo 77 decolou do Aeroporto Internacional de Dulles, em Washington, às 8h20, a caminho de Los Angeles, com pesados tanques de combustível para a viagem. A maior parte desse combustível ainda não havia sido gasta quando o avião atingiu o Pentágono.
Imagem: Federal Bureau of Investigation/Getty Images, via History.com
De acordo com a análise de Dusenberry e sua equipe, as asas e as áreas sem combustível do avião foram arrancadas quase que imediatamente após o impacto, mas os tanques de combustível pesados dispararam pelo primeiro andar, criando um fluxo de detritos que entraram no edifício como uma avalanche , deixando um rastro de destruição duas vezes maior que o comprimento da aeronave.
O que Dusenberry e seus colegas queriam descobrir foi como o segundo andar do Pentágono permaneceu de pé depois que dezenas de colunas do primeiro andar foram destruídas ou severamente danificadas. As seções superiores somente entraram em colapso após sofrerem danos severos devido a um incêndio violento.
A conclusão dos especialistas foi que duas decisões estratégicas do projeto, tomadas 60 anos antes, haviam mantido o Pentágono na posição vertical. A primeira teve a ver com a maneira como as colunas de concreto que sustentavam o piso e o teto foram reforçadas, ou seja, a escolha do vergalhão em espiral salvou o dia.
Ao se construir com concreto, hastes de reforço de aço são incorporadas na estrutura para aumentar a resistência. Na construção moderna, uma coluna de concreto provavelmente seria apoiada por aros horizontais amplamente espaçados de vergalhões correndo verticalmente até o centro. Mas na década de 1940, o padrão era usar um loop contínuo de vergalhões em espiral.
A vantagem do reforço em espiral ficou muito óbvia para a equipe de Dusenberry. Dentro do local, no primeiro andar, eles encontraram colunas severamente curvadas, nas quais a camada externa de concreto havia sido arrancada, mas o núcleo de concreto dentro do vergalhão espiral permanecia intacto. Incrivelmente, as colunas deformadas ainda estavam de pé.
"Se eles tivessem usado aros em vez de espirais, acredito que o desempenho não tivesse sido tão bom", diz Dusenberry. "Eles certamente não estavam antecipando ataques terroristas ou explosões ou qualquer coisa parecida. Esta é uma feliz consequência de algo que foi feito na época por outras razões”.
Imagem: Federal Bureau of Investigation/Getty Images, via History.com
A segunda coisa que segurou o Pentágono de pé após o ataque foi a maneira como o piso e o concreto do teto foram reforçados. Antes de tudo, as colunas de suporte em cada andar eram bem pouco espaçadas, com distâncias máximas de 6 metros. Então, as vigas de concreto acima delas percorriam distâncias curtas.
Além disso, dentro dessas vigas de concreto, os engenheiros usavam longos trechos de vergalhões sobrepostos de uma viga para a outra. Dusenberry diz que foram precisamente aqueles suportes de aço sobrepostos que sustentaram as partes do teto de concreto danificado, mesmo quando as colunas subjacentes desabaram.
"Esse vergalhão de aço pode atuar como um suspensor que mantém o concreto triturado no piso acima", diz Dusenberry. "Mesmo que ele não funcione mais como viga, ele fica pendurado, como um varal de roupas".
O Pentágono é um edifício único, uma fortaleza de concreto de cinco lados cujo estilo arquitetônico há muito está fora de moda, se é que alguma vez esteve em voga. Mas Dusenberry diz que arquitetos e engenheiros modernos podem aprender muito com as lições ensinadas pelo 11 de setembro, sendo a mais importante a relevância crítica da redundância e da ductilidade.
A redundância é o planejamento estrutural alternativo caso os elementos primários sejam perdidos ou destruídos. No Pentágono, essa redundância foi realizada por meio do pequeno espaço entre as colunas e dos vergalhões sobrepostos nas vigas. Já a ductibilidade é a capacidade dos elementos estruturais se dobrarem sob cargas extremas, mas não quebrarem, como aconteceu com o vergalhão em espiral nas colunas que ficaram de pé no Pentágono.
"Existem prédios sendo projetados hoje, levando em consideração a probabilidade de um evento", diz Dusenberry. “Não precisa ser necessariamente um evento ruim, mas que danifique algum elemento estrutural crítico. Por exemplo, você pode projetar um edifício de forma que um andar superior, caso você perca uma coluna abaixo, mantenha todos os andares abaixo dele pendurados”.
Imagem: Space Imaging/Getty Images, via History.com
Fonte: History.com
Imagem: Tech. Sgt. Cedric H. Rudisill/Department of Defense/Getty Images, via History.com