Eclipse observado no Ceará há um século levou Einstein à consagração mundial
Há pouco mais de um século, em 29 de maio de 1919, a população de Sobral, no Ceará, assistiu a um eclipse total do Sol muito peculiar. O fenômeno permitiu que uma equipe de pesquisadores constatasse a Teoria da Relatividade Geral, de Albert Einstein, e consolidasse, assim, uma das maiores revoluções da história científica. A partir daí, o cientista, que era pouco conhecido, se consagrou mundialmente.
Os astrônomos ingleses Frank Watson Dyson (diretor do Observatório Real de Greenwich) e Arthur Stanley Eddington sabiam que o eclipse do sol de 1919, visível na América do Sul e na África, seria a oportunidade perfeita para comprovar a teoria de Einstein. A faixa onde o eclipse poderia ser observado cruzaria toda a América do Sul, começando na Bolívia, passando pelo Oceano Atlântico e terminando na Tanzânia. Segundo o historiador Daniel Kennefick, tanto no território boliviano quanto no leste da África a posição do Sol prejudicaria a medição dos dados buscados pelos cientistas.
O Brasil virou uma opção quando Henri Charles Morize, diretor do Observatório Nacional do Rio de Janeiro e um dos fundadores da Academia Brasileira de Ciências (ABC) escreveu para Dyson defendendo que Sobral, a segunda maior cidade cearense, seria o melhor lugar do mundo para observar o fenômeno. Além de permitir a visualização plena do eclipse, a cidade era conectada por trens e contava com um porto relativamente próximo, o que facilitaria o deslocamento dos cientistas.
Assim, Charles Davidson, pesquisador com muita experiência em telescópios, e o astrônomo irlandês Andrew Crommelin foram enviados ao Brasil. Por cerca de quatro minutos, os cientistas puderam registrar 27 fotos do céu, mostrando as 12 estrelas que queriam observar. Um mês depois, eles fotografaram as mesmas estrelas, exatamente no mesmo lugar do céu, só que à noite. Agora, eles já poderiam testar a teoria de Einstein.
Imagem: F. W. Dyson, A. S. Eddington, e C. Davidson, via Wikimedia Commons
Em novembro do mesmo ano, Dyson, Eddington e Davidson publicaram um estudo dizendo que as observações do eclipse em Sobral "parecem confirmar a teoria da relatividade geral de Einstein". Como Einstein reagiu? O físico escreveu à sua mãe contando que recebeu a "notícia feliz" de que sua teoria havia sido confirmada.
“Alguns cientistas consideraram que o anúncio dos resultados do experimento feito neste eclipse foi um dos maiores momentos da ciência”, afirmou o físico Luis Carlos Bassalo Crispino, da Universidade Federal do Pará, em uma entrevista à BBC. Por meio dessa constatação, a teoria de Einstein deu abertura à formulação da teoria do Big Bang, que, pela primeira vez, permitiu explicar como o Universo nasceu, e criou um novo ramo na astrofísica, chamado cosmologia física, para o estudo desse tema.
Segundo antecipou Einstein, a luz das estrelas é desviada pelo Sol, por causa de sua extrema força de gravidade, um efeito conhecido como a curvatura do espaço-tempo. Estudar o eclipse do Brasil foi indispensável para corroborar a hipótese do físico alemão. Somente assim, na penumbra, pôde-se constatar a real localização das estrelas.
Naturalmente, a teoria de Einstein teve grande resistência por parte da comunidade científica. Desde a sua formulação, foi preciso esperar algum tempo, até que as predições do físico alemão pudessem ser corroboradas por método científico. Para celebrar os cem anos do feito, a prefeitura de Sobral instalou uma estátua de Einstein e reinaugurou o Museu do Eclipse, construído no local onde o fenômeno foi observado.
Imagem: Prefeitura de Sobral/Reprodução
Fonte: BBC
Imagem: Ferdinand Schmutzer/Domínio Público, via Wikimedia Commons