Centenas de fortes romanos são encontrados com imagens de satélites da Guerra Fria
Na década de 1920, o padre jesuíta Antoine Poidebard fez um dos primeiros levantamentos arqueológicos aéreos do mundo. Ao analisar as fotos registradas a bordo de um avião, ele identificou 116 fortes romanos no Oriente Médio. Agora, inspirados pelo trabalho pioneiro do religioso, pesquisadores usaram imagens de satélites espiões da época da Guerra Fria para localizar centenas de outras fortificações na Síria e Iraque.
Linha defensiva?
O estudo do padre Poidebard, publicado em 1934, sugeria que os fortes eram uma linha defensiva para proteger as províncias orientais romanas das incursões árabes e persas. "Desde a década de 1930, historiadores e arqueólogos têm debatido o propósito estratégico ou político deste sistema de fortificações", disse Jesse Casana, autor principal do estudo e professor do Dartmouth College, no Reino Unido. "Mas poucos estudiosos questionaram a observação básica de Poidebard de que havia uma linha de fortes que definem a fronteira romana oriental", completou.
Para se aprofundar na questão, Casana e uma equipe de pesquisadores utilizaram imagens de satélites espiões da Guerra Fria (que deixaram de ser confidenciais) para avaliar se as descobertas de Poidebard eram precisas. Usando como ponto de referência os fortes encontrados pelo padre, a equipe conseguiu identificar mais 396 fortificações. Os resultados do estudo foram publicados na revista Antiquity.
Segundo os pesquisadores, a descoberta aponta que as fortalezas estavam amplamente distribuídas pela região, de leste a oeste, o que não sustenta o argumento de que constituíam um muro fronteiriço norte-sul. Os pesquisadores levantam a hipótese de que os fortes foram na verdade construídos para dar apoio ao comércio inter-regional, protegendo as caravanas que viajavam entre as províncias orientais e os territórios não romanos e facilitando a comunicação entre o leste e o oeste. Isso indica que as fronteiras do mundo romano eram definidas de forma menos rígida e excludentes do que se acreditava anteriormente, concluíram os pesquisadores.