Propósito de gravuras gigantes em pedras na América do Sul pode ter sido desvendado
No século XVIII, exploradores relataram a presença de diversas gravuras de serpentes nas colinas rochosas que acompanham o Rio Orinoco, nos territórios da atual Colômbia e Venezuela. Ao longo dos anos, a localização exata dessas obras de arte rupestre foi preservada principalmente através de tradições orais locais. Agora, arqueólogos mapearam 14 locais com essas imensas figuras e levantaram uma nova hipótese para explicar seu propósito.
Marcadores territoriais
Publicado na revista Antiquity, o estudo confirma tanto as lendas locais quanto os relatos históricos dos exploradores, propondo que essas gravuras possam ter funcionado como marcadores territoriais ou pontos de referência antigos. Os pesquisadores visitaram 157 sítios com arte rupestre, com 13 desses locais apresentando gravuras com mais de 3,6 metros de altura. Uma grande variedade de figuras é retratada, incluindo insetos, jacarés, arraias, pássaros, humanos e outros mamíferos.
As serpentes foram as criaturas mais representadas nas rochas, com a equipe descobrindo dezenas de gravuras. Uma das mais impressionantes tem quase 40 metros de comprimento. "Qualquer coisa desse tamanho é monumental em nossa visão", explicou Philip Riris, arqueólogo da Universidade de Bournemouth e autor principal do estudo, ao New Scientist. "Isso significa que elas são visíveis de bastante longe, talvez 500 metros a um quilômetro".
Segundo a mitologia dos povos indígenas do Orinoco, as sucuris e jiboias têm um papel importante como criadoras primordiais e são altamente estimadas, disse Riris. Os indígenas Piaroa, que vivem próximos ao Rio Orinoco há gerações, acreditam que Cuämoi é uma sucuri cuja filha, Cuähua, criou a arte rupestre durante suas viagens ao longo do rio. Outra lenda fala de Kuahuayamo Ato, uma sucuri que possui todos os vegetais da região e nada pelo rio, cantando e chorando, o que resulta na criação da arte rupestre.
A prevalência da arte rupestre ao longo do rio sugere que essas gravuras antigas podem ter servido para indicar a presença de um determinado grupo, em vez de um aviso para ficar longe. "Podem ser tanto um sinal de aviso — você está no nosso território, comporte-se — quanto um marcador de identidade — você está no nosso território, está entre amigos. Mas não acho que tinham um único propósito, então poderiam facilmente ser ambos”, concluiu Riris.