Quem foi Oppenheimer? A incrível história do pai da bomba atômica
A criação da bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial mudou o curso da humanidade. Além de ter colocado fim ao conflito com o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, seu poder de destruição devastador foi uma das principais fontes de tensão na Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética. Por trás da invenção dessa arma devastadora, estava o físico teórico J. Robert Oppenheimer, diretor científico do Projeto Manhattan.
Projeto Manhattan
Oppenheimer nasceu na cidade de Nova York em uma família de imigrantes judeus, em 1904. Ele mostrou grande aptidão para a ciência desde cedo e se formou com honras em Física pela Universidade Harvard. Depois, obteve seu doutorado em Física Teórica na Universidade de Göttingen, na Alemanha, onde trabalhou com alguns dos físicos mais proeminentes da época.
Ao retornar aos Estados Unidos, Oppenheimer começou a lecionar na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e rapidamente se tornou uma das principais figuras no campo da física teórica. Seus estudos abrangiam uma ampla gama de áreas, desde a mecânica quântica até a astrofísica. Sua pesquisa e suas contribuições para a teoria das partículas elementares e a teoria quântica renderam-lhe grande reconhecimento acadêmico.
No entanto, foi durante a Segunda Guerra Mundial que Oppenheimer desempenhou um papel histórico. Em 1942, ele foi selecionado para liderar o Projeto Manhattan, um programa de pesquisa científica destinado a desenvolver a primeira bomba atômica dos Estados Unidos. Oppenheimer reuniu uma equipe de cientistas brilhantes em Los Alamos, no Novo México, onde trabalharam intensamente no projeto.
Sob a liderança de Oppenheimer, o Projeto Manhattan foi bem-sucedido em construir e testar com êxito a primeira bomba atômica. O teste, conhecido como "Trinity", ocorreu em julho de 1945 e foi um marco significativo na história da humanidade. No mês seguinte, nos dias 6 e 9 de agosto de 1945, os EUA atacaram as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki com as bombas 'Little Boy' e 'Fat Man', matando mais de 450 mil pessoas, o que marcou o fim do conflito. Apesar do sucesso do projeto, o uso da bomba trouxe dilemas éticos e morais para Oppenheimer e seus colegas.
Oposição à bomba de hidrogênio
Após a guerra, Oppenheimer foi nomeado membro do conselho de consultores da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos, que tinha como objetivo controlar o desenvolvimento e a utilização da energia nuclear. No entanto, ele enfrentou dificuldades devido às suas posições políticas e suas preocupações com as consequências do armamento nuclear. Oppenheimer usou sua posição na comissão para defender mais controle das armas nucleares e contra o desenvolvimento da bomba de hidrogênio, que os Estados Unidos testaram pela primeira vez em 1952.
“Ele se opôs a desenvolver a bomba de hidrogênio, a ‘superbomba’, porque era mil vezes mais poderosa do que [as bombas lançadas sobre] Hiroshima e Nagasaki”, disse Cynthia C. Kelly, fundadora e presidente da Atomic Heritage Foundation. Oppenheimer estava preocupado com a destruição potencial que poderia ser desencadeada por uma corrida armamentista para construir bombas cada vez maiores.
Em um clima de crescente paranoia da Guerra Fria e da caça às bruxas do macartismo, Oppenheimer foi acusado de ser simpatizante do comunismo. Em 1954, a Comissão de Energia Atômica dos EUA retirou de Oppenheimer o acesso a informações confidenciais devido a suas supostas relações com o partido comunista dos Estados Unidos na década de 1930. Seu contato com membros do partido levantou suspeitas de que ele pudesse espionar para a União Soviética, algo que nunca foi provado. A decisão de impedir que o cientista pudesse acessar os códigos necessários para seu trabalho praticamente colocou um fim em sua carreira.
A declaração mais famosa de Oppenheimer foi dada no documentário The Decision to Drop the Bomb (“A Decisão de Usar a Bomba”, em tradução livre), de 1965. No filme, Oppenheimer lembra de ter visto o primeiro teste de bomba nuclear em 16 de julho de 1945: “Sabíamos que o mundo não seria o mesmo. Algumas pessoas riram, algumas pessoas choraram, a maioria ficou em silêncio. Lembrei-me da linha da escritura hindu do Bhagavad Gita: Vishnu está tentando persuadir o Príncipe de que ele deve cumprir seu dever e, para impressioná-lo, assume sua forma de múltiplos braços e diz: 'Agora eu me tornei a Morte, o destruidor de mundos'. Suponho que todos pensávamos assim, de uma forma ou de outra".
Oppenheimer morreu em 1967, sem que o governo retificasse sua punição. Apenas em 2022, o Departamento de Energia dos Estados Unidos anulou a decisão de 1954, que privava o cientista de acesso a informações secretas sobre desenvolvimento nuclear. O órgão alegou que o processo ao qual o cientista foi submetido era falho e violava as regras da própria Comissão de Energia Atômica.