Resfriamento extremo levou ao fim a primeira ocupação humana na Europa

Pesquisadores encontraram evidências paleoclimáticas de um resfriamento extremo que atingiu o sul da Europa há 1,1 milhão de anos. Segundo uma equipe liderada por cientistas da University College London (UCL), na Inglaterra, esse fenômeno climático provavelmente causou a extinção de primeiros humanos no continente. Um estudo sobre a descoberta foi publicado na revista Science. 

De acordo com o estudo, o resfriamento glacial levou o clima europeu a níveis além do que os humanos arcaicos (conhecidos como Homo erectus) poderiam tolerar, o que resultou em seu desaparecimento do continente. Os cientistas chegaram a essa conclusão ao estudar sedimentos oceânicos coletados do litoral de Portugal. As análises revelaram a presença de mudanças climáticas abruptas que culminaram em um resfriamento glacial extremo, com temperaturas da superfície do oceano na costa de Lisboa caindo abaixo de 6°C.

“Um resfriamento dessa magnitude teria colocado pequenos bandos de caçadores-coletores sob estresse considerável, especialmente porque os primeiros humanos podiam não ter adaptações (físicas), como isolamento de gordura, nem os meios para fazer fogo, roupas ou abrigos eficazes”, disse Nick Ashton, pesquisador do Museu Britânico e coautor do estudo. Os pesquisadores acreditam que o fenômeno interrompeu a presença de humanos na Europa por cerca de 200 mil anos. "Nossa descoberta de um evento extremo de resfriamento glacial por volta de 1,1 milhão de anos atrás desafia a ideia de uma ocupação humana contínua da Europa", disse Chronis Tzedakis, líder do estudo. 

Embora o evento de resfriamento tenha durado apenas cerca de quatro mil anos, a falta de evidências de ferramentas de pedra e restos humanos nos 200 mil anos seguintes aumenta a possibilidade de um hiato duradouro na ocupação europeia. A Europa foi novamente repovoada há cerca de 900 mil anos por um grupo que é frequentemente referido como Homo antecessor. Segundo os pesquisadores, esse grupo e seus descendentes eram muito mais resistentes, pois conseguiram se adaptar à intensidade crescente das condições glaciais no continente.