Selvagens urbanos podem se tornar a classe dominante da “Idade Média” do futuro
Em 1990, o futurólogo Thierry Gaudin redigiu um trabalho de 600 páginas, conhecido como “o relato do próximo século”, no qual examina as possíveis consequências da explosão demográfica. O autor afirma que o nascimento das megalópoles, junto com o aumento da pobreza, poderia favorecer a aparição de um novo grupo: os “selvagens urbanos”.
Era da grosseria
Segundo Gaudin, esse grupo seria formado por pessoas de baixa formação estudantil, sem nível profissional necessário para adaptar-se ao ritmo exigido pela evolução tecnológica, que se encontram desempregadas de forma quase permanente e condenadas a viver à parte da civilização. Os selvagens urbanos seriam fruto do gigantesco êxodo humano visto nas últimas décadas. Devido a esse movimento, a maioria da população (56,2%) concentrou-se pela primeira vez na história da humanidade nas grandes cidades e suas periferias.
Outros pensadores alertam que o declínio que resultará no surgimento dos selvagens urbanos já está em andamento. Em um artigo publicado no New York Times, a escritora britânica Rachel Cusk descreveu a atual "era da grosseria" como um retrocesso na evolução humana, fruto de um déficit cultural que gera uma limitação alarmante de raciocínio e se manifesta em gestos de insolência, desprezo pela cortesia, a substituição do diálogo por gritos e ofensas. Segundo ela, muitas vezes isso resulta na vitória da violência e da arbitrariedade sobre a razão.
Já o ensaísta Alain Minc descreve este fenômeno social como o nascimento de uma “nova Idade Média”, desestruturada, submetida ao tribalismo e às crises, sem poder central. Esse cenário resultaria em “áreas cinzas”, dominadas pelas máfias e a corrupção, habitada por gente supersticiosa e sem educação, desprovida de razão e submetida a ideologias primárias. Minc projeta que o resultado final seria um contexto de atomização e desordem.