Chimpanzés têm culturas complexas e transmitem conhecimento, diz estudo

Os chimpanzés, conhecidos por sua inteligência e uso de ferramentas, podem ter culturas mais evolutivas do que se imaginava. Um estudo liderado pela Universidade de Zurique, na Suíça, sugere que alguns dos comportamentos mais sofisticados desses primatas foram transmitidos e aperfeiçoados ao longo de gerações. A pesquisa foi publicada no periódico Science.

Comportamento sofisticado

No estudo, os pesquisadores analisaram ferramentas usadas por chimpanzés para acessar alimentos escondidos, como um conjunto de objetos empregados em sequência. “Como a maioria das ferramentas dos chimpanzés, como galhos e caules, é perecível, há poucos registros históricos para confirmar essa hipótese – ao contrário de casos humanos, como a evolução da roda ou da tecnologia de computadores”, afirmou Cassandra Gunasekaram, principal autora do estudo.

A equipe combinou dados genéticos e observações comportamentais de 35 locais na África, categorizando os usos de ferramentas em três níveis: sem ferramentas, com ferramentas simples e com ferramentas complexas. Segundo Andrea Migliano, coautora da pesquisa, “descobrimos que as tecnologias mais complexas dos chimpanzés – o uso de ‘conjuntos de ferramentas’ – estão mais fortemente ligadas a populações geneticamente conectadas, mesmo que distantes, sugerindo que esses avanços foram transmitidos entre grupos”.

Um exemplo destacado no estudo é o uso de ferramentas na região do Congo. Chimpanzés primeiro usam um galho robusto para cavar túneis até ninhos subterrâneos de cupins. Em seguida, fabricam uma haste fina com uma ponta em formato de escova para capturar os insetos. Este comportamento, raro e sofisticado, reforça a ideia de transmissão cultural.

Além disso, os pesquisadores descobriram que fêmeas em idade reprodutiva, ao migrarem entre comunidades, desempenham um papel crucial na disseminação tanto de genes quanto de inovações culturais. Essa migração feminina parece ter ajudado a conectar populações ao longo de gerações. “Essas descobertas revolucionárias oferecem uma nova maneira de demonstrar que os chimpanzés possuem uma cultura cumulativa, ainda que em estágio inicial”, concluiu Migliano.