Pesquisadores desvendam mistério dos javalis radioativos da Alemanha
Há anos cientistas observam um nível elevado de contaminação por césio-137 em parte da população de javalis que vive nos bosques da Alemanha, fazendo com que sua carne seja considerada imprópria para consumo humano. Anteriormente, pesquisadores levantaram a hipótese de que o problema originou-se do acidente na usina nuclear de Chernobyl, em 1986. Agora, um novo estudo aponta uma outra fonte para a radioatividade excessiva que afeta esses animais: testes nucleares feitos nas décadas de 1950 e 1960.
Trufas contaminadas
Os pesquisadores colaboraram com caçadores para coletar carne de javali de diversas regiões do sul da Alemanha e, em seguida, mediram os níveis de césio-137 nas amostras com um detector de raios gama. Para determinar a origem da radioatividade, a equipe comparou a quantidade de césio-135 com césio-137 usando um espectrômetro de massa sofisticado. Estudos anteriores mostraram que essa relação indica claramente as fontes: uma relação alta aponta para explosões de armas nucleares, enquanto uma relação baixa implica que sua origem são reatores nucleares.
A equipe observou que 88% das 48 amostras de carne excederam os limites regulatórios alemães para o césio radioativo em alimentos. Nas amostras com níveis elevados, os pesquisadores calcularam as proporções de césio-135 para césio-137 e descobriram que os testes de armas nucleares contribuíram com entre 10% e 68% da contaminação. E em algumas amostras, a quantidade de césio proveniente apenas das armas nucleares ultrapassou os limites regulatórios. Os pesquisadores sugerem que os testes de armas nucleares foram uma fonte subestimada de césio radioativo para o solo alemão, que também foi impactado pelo acidente de Chernobyl.
A razão para a contaminação está nas preferências alimentares bastante específicas dos javalis: eles gostam de escavar trufas do solo, e o césio radioativo se acumula nesses cogumelos subterrâneos com um atraso de longo prazo. "O césio migra para baixo pelo solo muito lentamente, às vezes apenas cerca de um milímetro por ano", disse Georg Steinhauser, pesquisador da Universidade de Tecnologia de Viena, na Áustria. Assim, tanto o césio dos testes nucleares quanto o de Chernobyl se espalham pelo solo, e as trufas são assim alcançadas por duas diferentes fontes de radioatividade que gradualmente migram pelo solo.