Bactéria relacionada à sífilis é encontrada em esqueletos de 2 mil anos no Brasil
Pesquisadores descobriram o material genético da bactéria Treponema pallidum nos ossos de pessoas que viveram no Brasil há dois mil anos. Trata-se da mais antiga evidência desse agente patogênico no mundo, provando que os humanos sofriam de doenças semelhantes à sífilis (conhecidas como treponematoses) muito antes da chegada dos europeus nas Américas. A descoberta é tema de um estudo publicado na revista Nature.
Litoral de Santa Catarina
O grupo internacional de pesquisadores examinou ossos pré-históricos pertencentes a quatro indivíduos que foram sepultados há dois mil anos no sambaqui Jabuticabeira II, situado em Jaguaruna, no litoral sul de Santa Catarina. Em alguns dos indivíduos, foram detectadas alterações patológicas visíveis nos ossos pré-históricos. Isso poderia indicar que eles sofriam de uma doença semelhante à sífilis.
“Nosso estudo conseguiu mostrar que a sífilis endêmica já estava presente nas zonas úmidas do Brasil há cerca de dois mil anos”, disse Verena Schünemann, líder do estudo e pesquisadora da Universidade de Basileia, na Suíça. Segundo ela, isso significa que as pessoas já estavam sendo infectadas com sífilis endêmica, provavelmente através do contato cutâneo, mais de mil anos antes da chegada dos espanhóis e portugueses nas Américas.
Ainda hoje há intensos debates entre especialistas e historiadores da medicina sobre se os conquistadores europeus levaram a sífilis sexualmente transmissível das Américas para a Europa após o seu regresso. A doença propagou-se rapidamente a partir do final do século XV, particularmente em cidades portuárias.
“O fato de as descobertas representarem um tipo endêmico de doenças treponêmicas, e não a sífilis sexualmente transmissível, deixa a origem da sífilis sexualmente transmissível ainda incerta”, disse Kerttu Majander, pesquisador da Universidade de Basileia e um dos principais autores do estudo. “Como não encontramos qualquer sífilis sexualmente transmissível na América do Sul, a teoria de que Colombo levou a sífilis para a Europa parece mais improvável”, concordou Schünemann.